Árbitros ameaçam paragem total para garantirem “respeito, segurança e dignidade”

O organismo que tutela a arbitragem em Portugal pretende intensificar as medidas de protesto e pode ir até às últimas consequências, pois não viu satisfeitas as suas reivindicações

A arbitragem em Portugal tem sido alvo de muitas críticas e ninguém se endente. (Foto: Divulgação)

Nem tudo está bem no reino da arbitragem… como nunca esteve. Semana a semana vão-se assistindo às mais variadas críticas aos árbitros de campo, bem como ao vídeo-árbitro (VAR), dada a série de erros gritantes cometidos. Os principais clubes – FC Porto, Sporting e Benfica – por serem os mais escrutinados, não poupam palavras face a tanta indignação. Em boa verdade, as críticas não são ingénuas, pois tem sido gritante a dualidade de critérios na análise de lances idênticos, nomeadamente no que respeita às faltas graves e à intencionalidade das mesmas na decisão da marcação de grandes penalidades. Com efeito, ninguém se entende, se é que alguma vez alguém se vá entender. Dirigentes e treinadores, bem como muitos dos agentes que gravitam à volta do futebol, têm-se manifestado com insistência e as acusações sucedem-se.

A Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) reuniu em novembro com a Liga Portugal, mas não ficou convencida, pois não viu satisfeitas, até ao momento, algumas das propostas e reivindicações que apresentou. No essencial, a classe dos árbitros pretende que sejam aplicadas sanções disciplinares mais eficazes para penalizar aqueles que tentam intimidar ou coagir os homens que têm a tarefa de dirigir os encontros de futebol. Curiosamente, o comunicado de hoje, que se pode ler aqui na íntegra, é emitido a apenas dois dias do sempre escaldante jogo para a Liga Portugal entre o Benfica e o Sporting, a disputar na próxima sexta-feira no Estádio da Luz. A ameaça de uma greve geral está iminente, mas por enquanto não passa disso mesmo, ainda que possa acontecer a qualquer momento caso a segurança da classe não seja devidamente acautelada.

Comunicado da APAF

Cartão Vermelho à Violência Verbal
A APAF reuniu no passado dia 12 de novembro com a Liga Portugal, cuja representação incluía o seu presidente Reinaldo Teixeira, com o objetivo de apresentar um conjunto de propostas de alterações regulamentares que pretendemos ver implementadas, já esta época.

Atendendo à resposta da Liga Portugal, que consideramos não satisfazer as pretensões apresentadas, anunciamos que os árbitros vão manter e intensificar as ações de protesto, até que sejam implementadas medidas objetivas e eficazes de forma a garantir o respeito, a segurança e a dignidade do exercício da função de arbitrar. Consideramos avançar para uma paragem total dos árbitros, caso nada seja feito, em tempo útil, em relação às nossas propostas.

Exigimos que este tema seja finalmente encarado com a seriedade e profundidade que merece e que seja devidamente debatido na Liga Portugal, tanto em sede de Assembleia Geral como na Cimeira de Presidentes, marcada para o próximo dia 4 de dezembro.

É fundamental que as alterações regulamentares e disciplinares estejam, de forma clara, em cima da mesa, e que exista uma verdadeira vontade de ajustar o regulamento em benefício das competições.

A APAF e os árbitros registam o compromisso do Conselho de Arbitragem da FPF, que se mantém empenhado em assegurar as melhores condições para o desempenho da função de arbitrar. Existe igualmente um compromisso claro por parte do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Pedro Proença, em ratificar, de imediato, as alterações regulamentares, depois de aprovadas pela Liga Portugal, mostrando dessa forma a disponibilidade para garantir este caminho de melhoria. Esperamos a mesma responsabilidade e determinação por parte de todas as restantes entidades que integram o jogo.

Este não é um assunto exclusivo dos árbitros do quadro das competições profissionais. O clima instalado está também a refletir-se nos árbitros das restantes competições, nacionais e distritais, em todos os escalões, com especial incidência na falta de segurança, tema que deve merecer a melhor atenção das entidades competentes.

Porque todos queremos e merecemos um desporto mais saudável.

Vaz Mendes
É jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, publicando textos escritos em português de Portugal.

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