
“Ganhámos 3-2, vi o terceiro golo do banco com as mesmas dúvidas da distância, mas vi e revi-o no mesmo monitor com o que VAR também estaria e o golo é limpo. Ganhámos, grande vitória”, referiu ironicamente José Mourinho no final da partida depois do empate na Pedreira, assim vulgarmente chamado o estádio do Sporting de Braga. Por se tratar de uma crítica muito forte e obviamente direcionada à arbitragem, podemos começar então por aí mesmo. Decorria o minuto 74 quando o lateral sueco Samuel Dahl introduziu a bola na baliza depois de o árbitro ter assinalado uma falta do colombiano Richard Ríos sobre o meio-campista brasileiro Vítor Carvalho. Mourinho não é daqueles que se costuma desculpar com os erros da arbitragem, mas fê-lo descaradamente. A falta de Ríos parece ter existido, mas podia não ter sido marcada, como tantas vezes acontece. Rigor a mais? Talvez, se fosse um jogo em Inglaterra porventura tratar-se-ia de um lance normal, mas em Portugal apita-se em demasia e, como tal, a decisão em anular o golo de Dahl foi, no mínimo, sensata.
Numa análise global à partida, não terá sido por causa desse lance que o Benfica ficou ainda mais longe do título. O Braga foi muito melhor na primeira parte do jogo e dominou por completo o seu mais cotado adversário. Os encarnados até tiveram um início prometedor, mas foi sol de pouca dura. Meia dúzia de minutos serviram para que o Braga visse claramente o que o Benfica pretendia. Linhas muito compactas, um miolo bem sólido, e pouco atrevimento no ataque, apenas chegando lá à frente pela certa. Por isso o Braga mandou autenticamente no jogo durante praticamente toda a primeira parte, dispondo de várias ocasiões para abrir o marcador. Com os internacionais portugueses Ricardo Horta e João Moutinho a pegarem na batuta, eles próprios tiveram por três ocasiões o golo à mercê. Contudo, foi o Benfica que se adiantou no marcador, aos 28 minutos, com o central argentino Otamendi a rematar certeiro de cabeça depois de um cruzamento lateral do médio ucraniano Sudakov. Um golo contra a corrente do jogo, mas que não desmoralizou a formação arsenalista. Sempre virado para o ataque, o Braga empatou pouco depois a partida, quando, aos 35 minutos, beneficiou da marcação de um penálti que o médio uruguaio Rodrigo Zalazar concretizou a castigar mão na bola de Samuel Dahl.
E foi já em período de descontos que o Sp. Braga saltou para a frente do marcador com Zalazar a passar por Dahl com extrema facilidade e cruzar rasteiro, para o atacante espanhol Pau Victor aproveitar um tremendo erro de marcação de Richard Ríos e bater com classe o guardião ucraniano Anatoliy Trubin. Refira-se, a propósito, que Pau Victor é o jogador mais caro de sempre do emblema bracarense, contratado aos espanhóis do Barcelona por 12 milhões de euros. O Braga tem evoluído muito nos últimos anos, consolidou a sua posição de quarto clube “grande” de Portugal, mas ainda está longe de poder lutar de igual para igual com FC Porto, Sporting e Benfica. Fica a consolação de não falhar as sucessivas idas às competições europeias, sendo que na atual temporada está praticamente apurado para a próxima fase da Liga Europa.
Águias agigantam-se e jogo fica caótico

O segundo período do encontro foi bem diferente, com o Benfica a revelar uma outra clarividência e a ser mais eficaz, muito pela ação do norueguês Fredrik Aursnes e do ucraniano Sudakov. O empate a duas bolas chegou aos 53 minutos por Aursnes, que com uma autêntica bomba bateu o guardião checo Lukas Hornicek, depois de uma saída rápida de Vangelis Pavlidis para o ataque. O goleador grego, até aí completamente apagado, passou a ter uma ação preponderante na manobra da equipa e chegou mesmo a introduzir a bola nas redes bracarenses, apenas não valendo por evidente fora de jogo de Sudakov. Contudo, o jogo acabaria por se tornar algo caótico e até viril, depois do tal golo anulado a Samuel Dahl, antecedido de falta de Richard Ríos sobre Vítor Carvalho, lance que causou enorme polémica. Os dois treinadores ainda tentaram mexer no jogo com algumas alterações e o Benfica esteve bem mais perto de conseguir chegar ao êxito. Com o encontro a caminhar para o final, já depois do capitão bracarense Ricardo Horta receber ordem de expulsão, o Braga soube fechar bem os caminhos para a sua baliza. Assim, o Benfica pode terminar o ano civil a 10 pontos do líder FC Porto, caso os dragões ultrapassem o AVS Futebol, e a cinco do Sporting, que venceu expressivamente (4-0) o Rio Ave no Estádio José de Alvalade.

Carlos Vicens (treinador do Sp. Braga): “Na segunda parte fomos menos capazes de ficar com a bola e controlar o jogo a partir do nosso ataque, não sei se nos faltou um pouco de frescura em alguns momentos. Quando tivemos de jogar de forma direta pela pressão do Benfica, sofremos para ficar com a bola e continuar a jogar, sobretudo nos primeiros 15 a 20 minutos. Tivemos de defender mais a nossa baliza e ao atacar menos faz com que haja mais desgaste físico na defesa. É como um ciclo vicioso onde ficas com menos frescura e isso condicionou-nos um pouco. Empatámos e ainda nos falta muito pela frente, temos de continuar a trabalhar.”
José Mourinho (treinador do Benfica): “Acho que é uma grande vitória. Na primeira parte o Braga foi melhor do que nós. Tivemos ali um período curto onde nos superiorizamos. Na segunda parte não houve Braga, só houve a Benfica. Os jogadores assumiram essa responsabilidade. Virar o resultado e ganhar aqui 3-2 é um resultado fantástico para nós. Os jogadores merecem pelo esforço. Ganhámos 3-2. Eu vi o nosso terceiro golo do banco com as dúvidas da distância, mas depois ainda no banco vi e revi no mesmo monitor, provavelmente com que o VAR também estaria a ver. O golo é limpo, ganhámos, é uma grande vitória.”
É jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, publicando textos escritos em português de Portugal.

