
O que era previsível aconteceu. Concluída a 13ª ronda da Liga Portugal, numa altura em que ainda há mais 21 jogos pela frente, o FC Porto leva já uma margem pontual confortável para os seus adversários diretos na luta pelo título nacional, pertença do Sporting. A jornada foi particularmente feliz para o emblema azul e branco depois do empate a uma bola no confronto com os seus rivais de Lisboa, pelo que a partida no reduto do Tondela ganhou uma outra dimensão. E a verdade é que os dragões, mesmo pressionados pela obrigatoriedade de terem de vencer, não encontraram grandes dificuldades para superar um adversário que ocupa um dos lugares do fundo da tabela, ainda que só o tenham conseguido na segunda parte do encontro. Vindos de um inesperado desaire no Dragão diante do Vitória de Guimarães no seu próprio reduto, o que valeu o afastamento da Taça da Liga, os portistas apresentaram-se com o seu melhor onze e, obviamente, tudo foi diferente para bem melhor.
Pode, de certa forma, dizer-se que no poupar esteve o ganho, mas saltar para fora de uma competição, mesmo que o FC Porto nunca tenha a encarado seriamente – venceu uma taça em 18 edições já disputadas – não passava pela cabeça de ninguém. O técnico Farioli “inventou” ao montar uma equipa pouco rodada, com a inclusão de dois jogadores da equipa B, e deu-se mal. Diante do Tondela voltou ao esquema que lhe tem garantido sucesso, fazendo alinhar o onze habitualmente titular frente ao conjunto orientado pelo seu compatriota Cristiano Bacci. O técnico italiano optou pela entrada direta de Rodrigo Mora em vez do médio Gabri Veiga, mas a alternativa teve justificação. O espanhol sofreu uma lesão num tornozelo na partida com o V. Guimarães, foi dado como apto, mas sentiu um desconforto no aquecimento, pelo que a escolha recaiu no jovem prodígio dos dragões. Diogo Costa voltou à baliza, os polacos Bednarek e Kiwior, como de costume, formaram a dupla de centrais, com as laterais entregues aos portugueses Alberto Costa e Francisco Moura. Para além de Mora, o meio-campo contou com o dinamarquês Froholdt e o argentino Alan Varela. Na frente pontificaram o espanhol Samu Aghehowa e os extremos brasileiros Pepê e William Gomes, com destaque para o craque contratado ao São Paulo, cada vez mais uma peça fundamental na máquina azul e branca.
Apesar do domínio territorial do FC Porto, a primeira parte terminou empatada sem golos, pois as poucas oportunidades criadas pelos dragões foram superiormente defendidas pelo guardião brasileiro do Tondela. Com efeito, Bernardo Fontes, de 23 anos, natural do Rio de Janeiro, esteve em evidência logo nos primeiros minutos, primeiro com uma espetacular defesa a evitar o alívio de um seu companheiro na direção da baliza, depois a segurar o remate de Samou Aghehowa, de ângulo difícil, junto ao poste esquerdo, após assistência do internacional brasileiro Pepê. Mais tarde, à passagem da meia hora, Fontes voou para segurar um disparo de William Gomes. O Tondela ameaçou em algumas ocasiões, mas o FC Porto evidenciou grande acerto no setor defensivo, com particular evidência para a dupla formada pelos polacos Kiwior e Bednarek. Os dragões ainda chegaram ao golo por Rodrigo Mora, após uma grande jogada do dinamarquês Viktor Froholdt – recebeu o prémio de melhor em campo -, mas, após revisão do VAR, o lance acabou invalidado devido a um fora de jogo de 25 centímetros.
No melhor pano cai a nódoa

O início do segundo período foi fatal para o Tondela, no dia em que, pela primeira vez na história da Liga Portugal, dois treinadores italianos estiveram em lados opostos. Samu Aghehowa abriu o marcador, aos 48 minutos, na recarga a um remate de Kiwior. O guardião Bernardo Fontes ainda defendeu de forma espetacular o golpe do polaco, mas a bola sobrou para o dianteiro espanhol, que não perdoou. Um minuto depois, William Gomes fez o segundo tento da partida, após um clamoroso erro de Fontes, ao querer jogar curto com os pés em zona proibida. O jovem brasileiro foi rápido e astuto a roubar o esférico ao seu compatriota, e ficou com a baliza completamente à mercê para voltar a marcar, o que tem feito com regularidade. Bem se pode dizer que no melhor pano cai a nódoa, ainda que o deslize do guardião do Tondela em nada venha beliscar o seu talento, pois é apontado como um dos melhores no seu posto a atuar em Portugal.
Com a partida praticamente resolvida, depois de uns primeiros 45 minutos em que teve grande dificuldades para ultrapassar o bloco baixo do opositor, o FC Porto passou a controlar a partida, com o técnico Farioli a fazer as tais substituições úteis para evitar um qualquer azar. Ainda faltava muito tempo para o término do encontro e o 2-0 é sempre um resultado ingrato, pois um golo do adversário deixaria tudo em aberto. Por isso William Gomes e Rodrigo Mora foram os primeiros a sair, para as entradas do espanhol Borja Sainz e do dominicano Pablo Rosario, alterações que deram outro músculo, como se impunha, ao setor intermediário dos dragões.
Na próxima quinta-feira antevê-se mais uma grande noite de futebol no Dragão, dia em que o FC Porto recebe os suecos do Malmo, partida relativa à 6ª jornada da Liga Europa. Os comandados do técnico italiano Francesco Farioli seguem classificados no oitavo posto da respetiva tabela, lugar que lhe permite a passagem direta aos oitavos de final da competição. Depois do encontro com os suecos, os dragões deslocam-se à Chéquia para defrontar o Viktoria Plzen, concluindo a fase regular da prova diante dos escoceses do Rangers no Estádio do Dragão. Já o Malmoe está praticamente condenado à despedida da Europa, pois apenas somou um ponto e não se afigura nada provável que vença os três encontros que faltam, o que, mesmo assim, pode nem chegar para o acesso ao play-off no intuito de garantir uma vaga.

Francesco Farioli (treinador do FC Porto): “Começámos com um ritmo diferente na segunda parte e os três primeiros minutos levaram o jogo para um rumo completamente diferente. Depois tentámos controlar sempre. Podíamos ter feito muito melhor na primeira parte. Não chegámos tanto quanto queríamos às segundas bolas, perdemos muitos duelos e não passámos no um contra um. A primeira parte não correu como queríamos e é nisso que temos de continuar a trabalhar, mas é um resultado importante que nos permite continuar a nossa caminhada na Liga”.
É jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, publicando textos escritos em português de Portugal.

