
O grande jogo do Estádio da Luz entre o Benfica de José Mourinho e o Sporting de Rui Borges, presenciado por mais de 65 mil espectadores, acabou por ser bem amargo para a formação encarnada. Não é que à 13ª ronda do campeonato se possa dizer que tudo ficou mais claro no que à luta pelo título diz respeito, mas é um facto que o FC Porto, a “jogar” por fora, certamente que ficou agradado com o empate. Resta agora saber se os comandados do italiano Francesco Farioli, que ultimamente têm dado mostras de alguma instabilidade exibicional, superam o adversário de amanhã na sempre complicada deslocação a Tondela. Obviamente que uma substancial diferença pontual para os rivais pode trazer outro conforto, no caso mais gritante para a formação da Luz, que tarda em acertar agulhas. Mourinho não dispõe de um plantel equilibrado e aguarda por reforços de peso em janeiro. Os leões, nesta partida pouco atrevidos, já mostraram em outras ocasiões que possuem um plantel mais equilibrado e com outra garra.
O dérbi de Lisboa teve um pouco de tudo, feito de muita luta, especialmente nos duelos individuais entre os sul-americanos de ambas as equipas que por norma fervem em pouca água, rasgos de futebol emotivo, mais do que bem jogado, e algumas jogadas de bom recorte técnico. Não muitas, pois o encontro não foi particularmente um hino ao futebol e contou com muitas faltas, mas a emoção esteve sempre presente, aliás como habitualmente acontece quando os rivais da capital se encontram. O Sporting teve a felicidade de ser o primeiro a marcar – é o termo -, pois aos 12 minutos beneficiou de um autêntico brinde: o guardião ucraniano Anatoliy Trubin colocou a bola, com um passe curto, à disposição do médio Enzo Barrenechea, sendo de imediato pressionado pelo dinamarquês Morten Hjulmand, que entregou a bola de pronto a Pedro Gonçalves, para o avançado leonino atirar facilmente a contar. Um erro tremendo que deixou José Mourinho muito irritado e o caso não era para menos.

A partida até se iniciou de forma intensa, com sinal mais do Sporting, que logo aos três minutos até podia ter aberto o marcador por Luis Suárez, não fosse o seu remate cruzado ter sido defendido milagrosamente, com o pé, pelo guardião Trubin. O emblema de Alvalade dizia ao que ia, mas começou por beneficiar de um tremendo desacerto do conjunto encarnado, que levou algum tempo a recompor-se, ainda por cima tendo sofrido um golo tão cedo. Não estava nada fácil meter ordem na casa, disso se aproveitando o Sporting, que recorreu sistematicamente à falta na tentativa de impedir a progressão do seu adversário. Nesse capítulo, as lutas travadas entre o uruguaio Maxi Araújo e o colombiano Richard Ríos – em nítida subida de forma e premiado com o troféu de melhor em campo – ganharam animação extra, bem ao jeito da rivalidade entre sul-americanos. Contudo, apesar dos vários cartões amarelos exibidos, bem como um vermelho ao argentino do Benfica Gianluca Prestianni, já perto do final, o encontro acabou por ser duramente disputado, mas nunca de forma violenta.

E foi com um grande passe de Ríos que se deu início à jogada do empate encarnado, aos 27 minutos, com o lateral austríaco Amar Dedic a receber a bola no interior da área e a cruzar de pronto para o ucraniano Sudakov que se libertou da marcação e rematou em frente à baliza junto à base do poste esquerdo. A partir desse momento os encarnados ganharam outra embalagem e passaram a ser mais dominadores, contrastando com o que aconteceu até então. Enzo Barrenechea, aos 31 minutos, dispôs mesmo de uma excelente oportunidade para colocar a sua equipa em vantagem, mas o golpe de cabeça, após assistência do médio norueguês Fredrik Aursnes falhou o alvo por muito pouco. Até ao fim da primeira parte, para lá do constante recurso à falta por parte dos jogadores do Sporting, pouco mais houve de relevo numa partida que, globalmente, deixou muito a desejar.
Jogar para o empate foi a solução leonina
Quem aguardava por uma maior intensidade e golos desenganou-se muito rapidamente. Por norma, este tipo de confrontos, vivem de muita emoção dentro e fora do campo, mas nem sempre são bem jogados, aliás como foi o caso. Um ou outro rasgo individual de parte a parte foi o que se viu, mas quanto a remates à baliza muito pouco. Como tal, o Sporting entendeu precaver-se de um qualquer erro que pudesse perigar a perda dos três pontos, passando a jogar nitidamente para o empate. Por seu turno, o Benfica nunca encontrou argumentos para superar a bem organizada defensiva contrária. Tentou, é um facto, Richard Ríos, aos 81 minutos, até esteve perto de fazer a festa, não fosse o forte remate de fora da área ter saído ao lado, mas a partir da expulsão de Prestianni, já perto do final, a partida ficou sentenciada.
Assim, o segundo lugar da Liga Portugal continua entregue ao Sporting, com três pontos à maior sobre o Benfica. Mais uma vez deu para ver que José Mourinho tem razão quando diz que a sua equipa necessita de ser reajustada, principalmente no ataque, pois é gritante a falta de gente que jogue pelos extremos. O único que o fazia, e bem, era Dodi Lukebakio, mas uma fratura no tornozelo atirou o belga para a mesa das operações e a recuperação obriga a uma longa paragem, pelo que terá o resto da época em risco. Resta saber se o momento será propício para abrir os cordões à bolsa, pois o emblema da Luz, para lá do mau posicionamento no campeonato, pode ter a continuidade na Liga Europa em risco, já que apenas somou três pontos nos cinco jogos realizados. O encontro da próxima quarta-feira com os italianos do Nápoles pode ser decisivo tendo em vista a ida ao mercado em força no mês de janeiro.

José Mourinho (treinador do Benfica): “Começámos de um modo que me chateou de sobremaneira. No trabalho que nós fizemos esta semana, havia regras e coisas que não podíamos fazer. Foi exatamente o que nós fizemos. Depois uma reação, eu diria, emocional, uma reação de orgulho de uma equipa que quis ir à procura do resultado. Mas onde nós dominámos o nosso adversário foi na segunda parte, onde só uma equipa é que é que podia ganhar. Obviamente que não criámos cinco, seis ou sete grandes oportunidades. Nestes jogos é muito difícil que isso aconteça. Acho que a ganhar alguém teríamos de ser nós.”
Rui Borges (treinador do Sporting): “Na primeira parte, no cômputo geral, fomos melhores. Fizemos 30 minutos muito bons e podíamos ter chegado ao 2-0. O Benfica tem apenas dois lances de perigo, cresceram um bocadinho depois do golo com a ajuda do público, mas nunca perdemos o equilíbrio e voltámos a ser melhores nos últimos minutos. Na segunda parte, o Benfica teve mais bola, nós não conseguimos tê-la. Tivemos uma energia menos boa, fomos perdendo timings de pressão, fizemos más leituras de posicionamento, e deixámos o adversário empurrar-nos para trás.”
É jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, publicando textos escritos em português de Portugal.

