
O campeonato português completou neste último fim de semana 11 jornadas, correspondentes a um terço dos jogos que compõem a Liga Portugal, disputada por 18 equipas. Tal como aconteceu na temporada passada, devido ao ranking da UEFA (Liga dos Campeões, Liga Europa e Liga Conferência), Portugal está com dificuldades em somar os pontos necessários que lhe permita ter uma representação de acordo com o estatuto que em tempos já ostentou. Assim, só o primeiro classificado do campeonato voltará a ter entrada direta na Champions, enquanto que o segundo terá de disputar as pré-eliminatórias de acesso à maior prova europeia de clubes.
Há muitos milhões de euros em jogo e os três chamados grandes – Sporting, Benfica e FC Porto – apetrecharam-se devidamente para garantirem essa supremacia. E há as arbitragens, os tais maus da fita. Qual a ligação entre uma coisa e outra? É complicado e nada ético afirmar que os árbitros erram de propósito, mas que podem ter muita influência nas grandes decisões, disso ninguém tem dúvidas.

De uma forma geral todos ralham e muitos até têm razão. O exemplo mais flagrante desta última jornada aconteceu nos Açores, onde se defrontaram Santa Clara e Sporting. Já em período de descontos (90+4 minutos), o árbitro substituiu um pontapé de baliza a favor do conjunto da casa num canto, que proporcionou o triunfo ao conjunto de Alvalade. Toda a gente viu que quem atirou a bola para fora do campo foi o lateral internacional português Geovany Quenda. Todos viram, menos o árbitro, o auxiliar e o quarto árbitro, o que é, no mínimo, estranho.
O vídeo-árbitro não pôde intervir devido ao protocolo existente, pois os cantos e os lançamentos ficam completamente de fora dessa análise. Assim, do lance surgiu o golo da vitória leonina apontado pelo dinamarquês Morten Hulmand, pelo que o Sporting somou os três preciosos pontos, mantendo-se no 2º lugar da Liga Portugal, com menos três pontos do que o comandante FC Porto.
Na sequência deste erro, o próprio Conselho de Arbitragem (CA) não ficou indiferente à asneira e sabe-se que os árbitros em causa irão ser afastados nas próximas jornadas. Nestes casos em que os equívocos assumem proporções gigantescas, como foi o caso, o CA atua com mão pesada, pelo que infratores passarão por um período de afastamento e, porventura, também de reflexão. E é bom que reflitam bem, pois não está só em causa o afastamento temporário dos relvados, dado serem profissionais, pelo que também irão ficar com os bolsos mais leves. Diz-se no mundo da bola que vão para a jarra durante uns tempos, uma frase de autor, mais concretamente de Fernando Marques, ex-presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, falecido aos 89 anos em novembro de 2018.
Benfica sofre empate com penálti inexistente
Outro caso grave aconteceu no Benfica – Casa Pia, disputado no Estádio da Luz, partida que registrou um empate a duas bolas, curiosamente no dia em que o antigo futebolista Rui Costa foi reeleito na presidência do clube da Luz. O que devia ter sido uma festa transformou-se numa noite complicada e amarga por causa da arbitragem, ainda que o técnico José Mourinho, mesmo tendo sido bastante agressivo e contundente com os árbitros, também não isentasse a sua equipa de erros. Mourinho nem entrou mal, tendo vencido fora o AVS Futebol para a Liga Europa, depois empatou no Estádio da Luz com o Rio Ave, ao que se seguiram uma série de resultados positivos, mesmo o empate que conseguiu no Estádio do Dragão, pois quebrou uma longa série de vitórias do FC Porto a nível nacional e internacional. Já na Liga dos Campeões é que as coisas estão a correr francamente mal, pois os encarnados, desde que Mourinho substituiu Bruno Lage, perdeu os seus jogos com o Chelsea, Newcastle e Bayer Leverkusen.
Mas vamos lá ao lance da polémica na partida com o Casa Pia, que terminou com um empate a duas bolas. Quando o jogo caminhava para o final, o árbitro assinalou uma grande penalidade a favor da formação visitante por alegada mão do defesa central António Silva. É um facto que a bola foi ao braço do jogador benfiquista, mas tratou-se de um desvio natural, depois de lhe ter batido no corpo. Como tal, não houve qualquer intenção de fazer penálti com a chamada volumetria, tratando-se apenas de um toque casual e que em nada poderia beneficiar o adversário. O caso está a gerar muita polémica e Rui Costa veio a terreiro afirmar que o erro foi inadmissível e contrário às regras de jogo. O dirigente admitiu que possa ter havido um mal-entendido no ajuizamento do lance, mas dado o mesmo ter sido alvo da análise do vídeo-árbitro (VAR), jamais, em seu entender, poderia ter sido sancionado com uma grande penalidade.

“Erro ainda maior do VAR. E estou a ser simpático a chamar erro…”, referiu Mourinho entre outras considerações nada agradáveis para com a arbitragem. Aliás, no final do encontro verificaram-se algumas cenas nada dignificantes, pois o treinador do Benfica tentou confrontar o árbitro, tendo-o perseguido até ao túnel de acesso aos balneários. Também Mário Branco, diretor-geral do emblema da águia, entrou no relvado logo após o apito final, dirigindo-se à equipa de arbitragem em tons nada pacíficos, pelo que recebeu ordem de expulsão, assim como o fisioterapeuta Pedro Barreiras. Como é comum dizer-se, o caldo entornou e o próprio presidente Rui Costa não se coibiu de tecer considerações menos abonatórias. “Isto é muito grave. Assim se decidem campeonatos!”, referiu no rescaldo do encontro com o Casa Pia, informando que iria pedir uma audiência a quem dirige o futebol português.
Quem desta vez quem passou “despercebido” aos olhos da arbitragem foi o FC Porto, vencedor do encontro que disputou em Famalicão. Os dragões também já tiveram razões de queixa noutras alturas, mas desta vez foi tudo limpinho, sem casos que prejudicassem uma ou outra equipas. Contudo, o FC Porto não deixou passar em claro o que se passou na vitória do Sporting sobre o Santa Clara, pois a formação de Alvalade sonou três pontos mesmo ao findar da partida devido ao tal erro colossal do árbitro, que transformou um pontapé de baliza num canto. Obviamente que os portistas poderiam ter ficado com uma vantagem de cinco pontos sobre o Sporting, ao invés dos três pontos que separam ambos, o que nas contas finais do campeonato podem, eventualmente, fazer toda a diferença.
Assim vai o futebol português. Muitos erros de arbitragem – e não acontecem apenas nos jogos em que os grandes intervêm -, pelo que é urgente uma reflexão profunda para se evitar que a verdade desportiva continue a ser atraiçoada. Não vai ser nada fácil.
É jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, publicando textos escritos em português de Portugal.

