
Com o Estádio da Luz a abarrotar pelas costuras – perto de 60 mil pessoas assistiram à estreia de José Mourinho em casa -, o Benfica sofreu um autêntico balde de água fria já no tempo de descontos – o árbitro concedeu sete minutos de tempo extra, mas prolongou até aos nove – com um enorme e inesperado golaço que deu o empate (1-1) ao Rio Ave, que na jornada anterior havia sido derrotado no seu reduto por três bola a zero pelo FC Porto.
O jovem atacante brasileiro André Luiz, de 22 anos, natural do Rio de Janeiro, arrancou um espetacular remate com o pé esquerdo ao ângulo da baliza do ucraniano Anatoliy Trubin, em jogada de contra-ataque, depois de se desenvencilhar dos adversários que encontrou pela frente. Um lance que deixou Mourinho profundamente agastado, como de resto também ficou quando viu um golo anulado, aos 60 minutos, por alegada irregularidade do central argentino Otamendi, antes do seu parceiro de defesa António Silva atirar a contar de cabeça.

Mourinho não teve papas na língua e criticou a arbitragem pela anulação do golo. Não é que tenha justificado o desaire unicamente com este lance, mas mostrou-se visivelmente desagradado com a análise da jogada, após revisão do vídeo-árbitro (VAR). Num lance conduzido pela direita por Otamendi e na sequência de um cruzamento, a bola chega à cabeça de António Silva e faz a bola ultrapassar a linha de golo, que é de imediato aliviada, mas o grego Vangelis Pavlidis, na recarga, atira mesmo para o fundo das redes para que não subsistissem dúvidas. Só que, alertado pelo VAR, o árbitro viu as imagens e detectou um pisão de Otamendi antes do cruzamento.

Numa interpretação das leis de jogo, poder-se-á dizer que a análise foi correta e, como tal, aceita-se a invalidação do lance. O grande problema é que estes contactos existem com alguma frequência, mas há indicações claras para serem punidos. Uns punem, outros não. O técnico do Benfica não gostou e acabou por tecer duras críticas à arbitragem, ainda que o tivesse feito num contexto global por estar contra este tipo de decisões. E, convenhamos, perder dois pontos em casa e deixar fugir FC Porto e Sporting provocou ainda mais azia, com críticas à sua própria equipa, o que não deixa de ser natural.
Primeira parte com muita parra e pouca uva
O Benfica apostou no mesmo “onze” que tinha enfrentado e derrotado (3-0) o AVS na estreia de Mourinho como treinador do conjunto da Luz. Os primeiros 45 minutos de jogo revelaram uma equipa apática e sem ideias – a dos encarnados – e a outra, a dos vilacondenses, mais preocupada em defender do que em construir. O Rio Ave, sem um único jogador português na formação inicial – tem apenas três no plantel e nenhum deles foi chamado a jogo – foi à procura do pontinho da ordem, o que lá viria a conseguir com o tal golaço do brasileiro André Luiz, que fez a sua formação no Flamengo e no América do Rio de Janeiro. Mas por falar em estrangeiros, o Benfica alinhou com um “onze” apenas com um português, mais concretamente o central António Silva.

Mas jogou-se muito mal, sem uma ideia de jogo definida, chegando a dar a ideia de que alguns jogadores do Benfica estão mal no capítulo físico. Um ou outro lance mais intencional não disfarçaram a apatia dos encarnados. Foram mais fortes, é um facto, mas não se viu nada de jeito, com o Rio Ave, esclarecido no seu setor defensivo, a anular toda e qualquer tentativa de o adversário chegar ao tão desejado golo. Por isso não houve nenhuma oportunidade flagrante para se poder dizer que o Benfica era merecedor de um prémio merecido e justificado ao intervalo. A partida com o Rio Ave, relativa à primeira jornada da Liga Portugal, mas adiada devido aos compromissos europeus do Benfica, mais parecia estar condenada ao insucesso.
Entrada do belga Lukebakio ainda prometeu
Com a partida empatada, Mourinho mexeu na equipa e fez entrar o extremo internacional belga Dodi Lukebakio, contratado ao Sevilha, de Espanha, e que fez a sua estreia pelo emblema da águia. Muito mexido na ala direita, acabou por oferecer mais condições de penetração na área a adversária, tendo estado na origem do golo benfiquista na sequência de um cruzamento para a entrada fulgurante, aos 86 minutos, do ucraniano Sudakov. Antes, porém, Lukebakio deixou sérios avisos, ele próprio esteve muito perto do golo, mas o chapéu ao guarda-redes ficou curto, para lá de ter oferecido a Richard Ríos a oportunidade de marcar, com o remate do colombiano ex-Palmeiras a sair desenquadrado da baliza.
Na reta final do encontro, o Benfica não soube controlar o jogo, como se impunha – situação que deixou Mourinho bastante irritado -, permitindo ao Rio Ave lançar alguns contra-ataques, o que viria a resultar no fabuloso golaço do brasileiro André Luiz. Assim, o Benfica desperdiçou a oportunidade de se aproximar da liderança e soma 14 pontos ao fim de seis jornadas na Liga Portugal, atrás do bicampeão Sporting (15) e do comandante FC Porto (18). Registe-se que no próximo dia 5 de outubro há o tão aguardado FC Porto-Benfica, a disputar no Estádio do Dragão, naquele que será o regresso de José Mourinho a uma casa onde conheceu os primeiros grandes êxitos nacionais e internacionais da sua extensa carreira.

José Mourinho (treinador do Benfica): “Primeira parte pouco. Segunda parte boa, dentro das nossas limitações. A segunda parte é dominante, agressiva, com oportunidades, sempre a jogar no campo adversário, mas a jogar de maneira adversária. Os dois jogadores que entraram deram um cariz diferente ao jogo, não quero dizer que fizeram um jogo tremendo. Se isto é o novo futebol, em que se anulam golos por pisar um dedinho com um outro dedinho, eu não gosto deste novo futebol. Depois é o momento em que não se pode sofrer. É tremendamente injusto. É um resultado péssimo para nós. Uma primeira parte pobre, mas uma segunda parte boa. O jogo foi o que o Rio Ave quis e o árbitro permitiu. Pouco podemos fazer em relação a isso. O que podemos fazer é jogar como jogámos na segunda parte”.
