
A manhã de hoje foi longa e cruel para todos os que viam em Pinto da Costa – “O Presidente dos Presidentes” – o verdadeiro símbolo de um clube que dirigiu durante 42 anos. Muitas lágrimas, mas também aplausos e cânticos entoaram desde a Igreja das Antas, onde foi rezada missa, até ao Estádio do Dragão. Com o consentimento da família, a urna foi colocada no relvado e alguns milhares de pessoas despediram-se emocionadas do seu ídolo. Ainda em vida, após revelar a doença oncológica de que padecia, mencionou os nomes de quem não queria que marcassem presença no seu funeral. André Villas-Boas, atual presidente dos dragões, era um deles. A vontade do “Rei” foi cumprida.
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“O momento é sensível, tenho muito apreço por Pinto da Costa e pela sua palavra. Não quero hostilizar nem o momento que é solene, nem a sua família, nem estar a ir contra a sua palavra. A sua palavra foi direta e clara e pretendo respeitá-la. Assim também será se o cortejo fúnebre se deslocar ao Estádio do Dragão. Havendo desejo da parte da família, repensarei. Foi palavra dita em vida e pretendo respeitar”, assim se pronunciou Villas-Boas no dia do velório, confrontado com um momento difícil para si. Mesmo colocado perante um cenário que não desejava, o atual presidente do FC Porto fez tudo para que as cerimónias fúnebres corressem com a maior elevação.
Na Igreja das Antas, no Porto, onde decorreram as exéquias, só estiveram presentes familiares e amigos mais próximos. O cortejo fúnebre seguiu depois diretamente para o Estádio do Dragão, naquela que foi a última homenagem no interior do recinto, antes de seguir para o Cemitério Prado do Repouso. A equipa principal de futebol, que na véspera já tinha participado no velório, voltou a despedir-se de Pinto da Costa, assim como vários atletas de outras modalidades. O ex-técnico dos dragões Sérgio Conceição, visivelmente comovido, viajou desde Itália para a despedida ao seu amigo, sabida que era a forte ligação ao ex-líder dos dragões. Por entre caras conhecidas, também o antigo defesa luso-brasileiro Pepe assistiu à cerimónia fúnebre, bem como o seu compatriota Deco, jogador de enorme talento que também passou pelos dragões e que atualmente desempenha as funções de diretor desportivo no Barcelona. Muitos notáveis de vários quadrantes da sociedade portuguesa no funeral de Pinto da Costa, mas foi o povo anónimo que encheu as imediações das Antas na despedida a um dirigente ímpar no futebol português.

Governo representado ao mais alto nível
Luís Montenegro, primeiro-ministro de Portugal, fez questão de estar presente no funeral, tecendo sentidas palavras sobre o ex-presidente do FC Porto. “Estou aqui para homenagear Jorge Nuno Pinto da Costa, um dirigente icónico do desporto português, uma referência dos valores da promoção da prática desportiva, da promoção do país. Fica a memória de alguém que dedicou toda a vida a um trabalho de promoção do desporto e de uma coletividade que é uma referência em Portugal e no Mundo em todas as modalidades”, referiu Montenegro.
Também o ex-presidente da República Ramalho Eanes, amigo de longa data de Pinto da Costa, muito aplaudido, teceu rasgados elogios ao ex-líder dos dragões: “Deixou um legado impressionante ao FC Porto, ao futebol nacional, à cidade do Porto e ao país. Um legado de ambição, de ambição inteligente, que sabe descobrir os segredos, criar oportunidades, utilizá-las com uma estratégia, com uma vontade, com um propósito e que, para isso, mobiliza todos os participantes e prosseguir com todas as dificuldades naturais”, destacou o general Eanes.

Sporting e Benfica ainda não reagiram
Da parte do Sporting e do Benfica não houve nenhuma nota de pesar pelo falecimento de Pinto da Costa, o que mereceu críticas de André Villas-Boas. De resto, os dois emblemas lisboetas foram os únicos que não se fizeram representar a nível de clubes da principal liga de futebol portuguesa. Se, de certa forma, a ausência do Sporting tem alguma lógica, já a do Benfica não se entende muito bem, a não ser, – como se ouviu dizer e até com uma certa lógica – pelo facto de no próximo mês de outubro haver eleições no emblema da Luz. São conhecidas as rivalidades entre os “grandes” de Portugal e os associados não perdoariam ao presidente Rui Costa uma “aproximação” ao rival do Norte. O momento encarnado não é lá muito famoso a nível futebolístico e o presidente do clube da Luz vai ter concorrência no ato eleitoral, pelo que nestas coisas do voto popular é melhor jogar pela certa para não dar trunfos à oposição, mesmo que interna. Já da parte do Sporting, desde que o presidente Frederico Varandas se referiu a Pinto da Costa ao afirmar que “um bandido será sempre um bandido” … está bom de ver que não havia a mínima margem para reconciliações. Situações lamentáveis e até condenáveis, mas a clubite tem destas coisas. Por entre comentários que se foram ouvindo, Pinto da Costa saiu mais uma vez vitorioso, mesmo dentro de uma urna, do derradeiro duelo com os seus adversários da capital”