Marinha do Brasil e UFRJ fortalecem parceria para o desenvolvimento de tecnologias nucleares marítimas

Curso de extensão discutiu avanços, regulamentação e aplicações dos Reatores Modulares Pequenos em navios e plataformas offshore

Coordenadora do evento, professora doutora Inayá Lima durante abertura. (Foto: João Ventura/UFRJ)

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) promoveu, no dia 28 de abril, o curso de extensão “Energia Nuclear no Mar: Viabilidade e Normas para SMRs embarcados”, que discutiu os avanços tecnológicos, os desafios regulatórios e as aplicações marítimas dos Reatores Modulares Pequenos (SMRs), destacando a importância da inovação para o desenvolvimento do setor nuclear nacional.

Segundo a professora doutora Inayá Lima, da pós-graduação em Engenharia Nuclear da UFRJ, o principal objetivo do curso foi debater os avanços e desafios dos SMRs, com foco especial em suas aplicações no setor marítimo. Durante o evento, foram abordados projetos em desenvolvimento no Brasil, suas possíveis implementações, além dos aspectos regulatórios e de licenciamento que envolvem essa tecnologia inovadora. “Este evento marcou um momento histórico para o nosso setor nuclear, em especial para os alunos da engenharia nuclear, e a adesão, inclusive, superou todas as expectativas.”

Para o Diretor-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, Almirante de Esquadra Rabello, a parceria da Marinha, por intermédio da DGDNTM, com instituições como a UFRJ é estratégica para o desenvolvimento e integração de esforços científicos e tecnológicos de interesse da Força Naval e do País.

“Eventos como este fortalecem a interação da Marinha com instituições de ciência e tecnologia, em especial no que se refere à energia nuclear, por considerar os esforços da Força Naval na condução do processo de obtenção do Submarino Nuclear Convencionalmente Armado. Numa visão mais ampla, os debates realizados no curso proporcionaram reflexões pertinentes e oportunas quanto à relevância de tecnologias inerentes à energia nuclear para o Brasil, não só incrementar a autonomia tecnológica como também para a segurança energética do País”, disse o Almirante de Esquadra Rabello.

O Presidente da Frente Parlamentar Mista da Tecnologia e Atividades Nucleares, Deputado Federal Júlio Lopes, enfatizou que eventos como os organizados pela UFRJ, voltados à discussão sobre SMRs no mar, são fundamentais não apenas para ampliar o conhecimento sobre essa nova possibilidade, mas também para estimular estudantes e professores a prosseguirem na pesquisa e no desenvolvimento.

Segundo o parlamentar, a propulsão de navios e submarinos, assim como a energização de plataformas de petróleo em alto-mar, já são realidades cada vez mais presentes no campo da energia. Por isso, é essencial que essas tecnologias sejam compreendidas e desenvolvidas pela academia brasileira. Júlio Lopes também destacou o avanço das pesquisas na UFRJ.

A programação foi marcada por uma série de palestras e mesas-redondas que abordaram desde projetos em desenvolvimento no País, até os marcos regulatórios e os critérios de segurança para a utilização de reatores nucleares embarcados.

O físico nuclear e professor do Departamento de Engenharia Nuclear da UFRJ, doutor Aquilino Senra, foi um dos palestrantes do evento e destacou o projeto de pesquisa contratado pela Petrobras para o desenvolvimento de um estudo de viabilidade da implantação de um hub de geração offshore de energia elétrica, visando à descarbonização da produção de gás e óleo em alto-mar por meio de fontes renováveis e nuclear.

O professor doutor Aquilino esclareceu ainda que a UFRJ não está desenvolvendo diretamente um reator embarcado, mas sim investigando alternativas energéticas inovadoras para ambientes extremos, localizados a 250 quilômetros da costa brasileira e a 2.500 metros de profundidade. Em sua apresentação, abordou os avanços no uso da fonte nuclear no projeto e ressaltou que a geração offshore de energia elétrica, baseada em múltiplas fontes, poderá beneficiar setores como a mineração, a siderurgia, o refino de petróleo, a dessalinização da água e data centers.

Adicionalmente, o professor doutor. Aquilino também reforçou a importância estratégica do domínio da tecnologia nuclear pela MB, especialmente no programa de propulsão nuclear de submarinos. Ao comentar sobre a iniciativa do workshop promovido pela professora doutora Inayá Lima, do Programa de Engenharia Nuclear (PEN) da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), Senra avaliou que encontros como este são fundamentais para fomentar o diálogo técnico e institucional sobre o papel dos pequenos reatores modulares (SMRs) na descarbonização industrial, ressaltando que a geração contínua de energia elétrica, sem emissão de gases do efeito estufa, é indispensável para plataformas offshore afastadas da costa.

Almirante de Esquadra Petronio ressalta a importância da atuação integrada para o uso seguro e confiável de plantas nucleares flutuantes no futuro. (Foto: João Ventura/UFRJ)

Durante sua participação, o Secretário Naval de Segurança Nuclear e Qualidade, Almirante de Esquadra Petronio Augusto Siqueira de Aguiar, ressaltou a relevância do evento para o fortalecimento da cultura de segurança nuclear naval em projetos inovadores como os SMRs embarcados.

“Eventos voltados para o debate técnico-científico, promovidos pela academia, são fundamentais para disseminar conhecimento técnico e consolidar uma mentalidade voltada à segurança nuclear em navios e plataformas flutuantes, no momento em que observamos um intenso desenvolvimento de tecnologias potenciais para o emprego nos cenários marítimo e fluvial. A atuação integrada entre o setor regulador, universidades e indústria é essencial para garantir o uso seguro e confiável das plantas nucleares flutuantes, em futuro próximo, sempre que necessário”, afirmou o Almirante de Esquadra Petronio.

Destinado a profissionais da indústria nuclear e de energia, reguladores, pesquisadores e empresas interessadas em investir em SMRs, o curso buscou fomentar o diálogo entre os diversos atores do setor e contribuir para o desenvolvimento sustentável da energia nuclear no Brasil.

O Diretor-Presidente da Amazônia Azul Tecnologia de Defesa S.A. (AMAZUL), Vice-Almirante Newton de Almeida Costa Neto, destacou que o curso é uma iniciativa essencial para ampliar o conhecimento técnico sobre tecnologias sensíveis e preparar profissionais qualificados para os grandes projetos do setor nuclear brasileiro.

“Na Amazul, trabalhamos para integrar ciência, engenharia e soberania nacional, contribuindo de forma concreta para o domínio do ciclo do combustível nuclear e o desenvolvimento de tecnologias inovadoras. Tudo isso com o compromisso de gerar benefícios reais para a sociedade, como segurança energética, desenvolvimento tecnológico e formação de mão de obra altamente especializada”, explicou o Diretor-Presidente da AMAZUL.

Também participou do Painel de Discussão “Panorama dos SMRs: Tecnologias Viáveis” o ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), professor doutor Renato Cotta, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFRJ e atual Consultor Técnico da DGDNTM. Ele ressaltou que o avanço tecnológico em áreas estratégicas, como a dos Reatores Modulares Pequenos (SMRs) para aplicações marítimas, depende diretamente da formação de recursos humanos altamente qualificados e da consolidação de parcerias entre a academia, o governo e instituições do setor.

“Iniciativas como essa são essenciais para estimular pesquisadores, integrar conhecimentos de diferentes áreas e preparar o País para enfrentar os desafios técnicos e regulatórios que essas tecnologias exigem. A universidade tem um papel central nesse processo, tal qual ocorreu em outras oportunidades, promovendo análises independentes e soluções inovadoras que atendam às necessidades do desenvolvimento nuclear autóctone”, afirmou o professor doutor Cotta.

A iniciativa refletiu a crescente importância da energia nuclear como vetor estratégico para o País e reforçou o papel da universidade, do governo e da indústria na articulação entre ciência, tecnologia e inovação.

𝑝𝘶𝑏𝘭𝑖𝘤𝑖𝘥𝑎𝘥𝑒  

O evento reafirma o compromisso da UFRJ, que, por meio de uma parceria bem-sucedida entre a COPPE e a Escola Politécnica, promove conhecimento, avanço técnico e capacitação em um setor estratégico para o País.

Botão Voltar ao topo