
Portugal venceu folgadamente a Arménia, última classificada do Grupo F, e garantiu o apuramento direto para o Campeonato do Mundo a realizar entre os dias 11 de junho e 19 de julho do próximo ano nos Estados Unidos, Canadá e México. Depois do recente desaire na Irlanda, exigia-se aos comandados do espanhol Roberto Martínez que conseguissem o triunfo no Estádio do Dragão, campo talismã para os portugueses, pois conseguiram o seu quinto apuramento para as maiores competições europeias e mundiais. Sem Cristiano Ronaldo, suspenso devido a conduta violenta no confronto com os irlandeses, a Seleção Nacional atingiu números invulgares diante de um adversário que já se encontrava fora das contas para o Mundial. Numa tarde muito chuvosa, houve ainda dois momentos marcantes, aos minutos 2 e 21, respetivamente os números das camisolas dos futebolistas já desaparecidos Jorge Costa e Diogo Jota, que receberam fortes aplausos das repletas bancadas do Dragão.
No dia em que Portugal vestiu de negro, pois hoje completam-se 60 anos desde a conquista da Bota de Ouro por Eusébio da Silva Ferreira, simplesmente Eusébio, nove golos dizem bem da superioridade do conjunto luso e, naturalmente, das fragilidades de um opositor demasiadamente modesto. Como quase sempre tem acontecido, Portugal esperou pelo último jogo para carimbar o apuramento para a maior prova do planeta a nível de seleções. Muito se falou na ausência de Cristiano Ronaldo, de 40 anos, mas o craque do All-Nassr não fez muita falta. Pode até dizer-se que a equipa jogou mais solta e não tão dependente do seu capitão, ainda que ninguém duvide de que poderá ser por mais algum tempo um elemento fundamental ao conjunto português. Se calhar não jogando de forma tão assídua, pois a sua veterania por certo que obrigará a naturais cautelas, para lá de Portugal dispor de soluções bem capazes face uma eventual saída de cena. Ronaldo foi, e continua a ser, foco de muitas discussões, expondo-se de novo à crítica, pois entendeu não estar junto dos seus companheiros na hora da grande decisão. Antes e depois do jogo, o capitão da Seleção Nacional endereçou felicidades e parabéns aos colegas através das redes sociais, mas houve quem entendesse, mesmo no seio do grupo de trabalho, que deveria ter marcado presença no Estádio do Dragão.

João Neves x 3 e Bruno Fernandes x 3
Para a história do encontro com a Arménia ficam os golos, seis deles a serem apontados pelo centro-campista João Neves, do Paris Saint Germain, e outros tantos por Bruno Fernandes, o cerebral jogador do Manchester United. O primeiro dos nove tentos pertenceu ao central Renato Veiga – uma das novidades do técnico Roberto Martínez em relação ao confronto com a Irlanda, como também foram Nélson Semedo, Bruno Fernandes, Rafael Leão e Gonçalo Ramos – ao cabecear com êxito na recarga, após canto de Bruno Fernandes. Assim começava, logo aos 6 minutos, a caminhada triunfal portuguesa rumo ao Mundial. Mesmo consentido o tento do empate, aos 18 minutos, Portugal deu mostras de não se importunar e balanceou-se no ataque para passar de novo à vantagem por Gonçalo Ramos, aos 28 minutos, rápido a ganhar a bola e a rematar com êxito para a baliza, depois de um infeliz atraso de um defensor arménio para o seu guarda-redes.
Ainda antes do intervalo, Portugal apontou mais três golos por João Neves, aos 30 e aos 40 minutos, e por Bruno Fernandes, aos 45+3 minutos, o primeiro dos dois que marcou de penálti. Golos de belo efeito, principalmente o segundo do “pequeno” Neves, na execução primorosa de um livre direto, com a bola a desferir um arco perfeito e a deixar o guardião adversário pregado ao relvado.

Sempre a abrir… que a chuva molha
Mesmo podendo tirar o pé do acelerador, Portugal insistiu na mesma toada de ataque e as bancadas reclamavam por mais golos. O certo é que a frágil Arménia colocou-se sempre a jeito, tal a fragilidade defensiva patenteada. Basta dizer que a seleção orientada por Yeghishe Melikyan apenas venceu uma vez – curiosamente bateu a Irlanda, seleção hoje apurada para o play-off de qualificação, depois de bater a Hungria, em Budapeste, por três bolas a duas – e perdeu em cinco ocasiões, tendo apontado três golos e sofrido 19 nos seis jogos que disputou. E foi debaixo de chuva intensa, fruto da tempestade com o nome Cláudia e que já fez muitos estragos de Norte a Sul de Portugal, que a equipa lusa chegou a uma goleada por números tidos como impensáveis e pouco comuns a este nível.
Bruno Fernandes, aos 51 minutos, chegou o sexto tento após jogada de conjunto, depois de receber a bola de Gonçalo Ramos, e voltou a fazer o gosto ao pé, aos 72 minutos, de penálti. Seguiu-se o terceiro golo de João Neves, aos 80 minutos, para Francisco Conceição, já em tempo de descontos, fechar a contagem. O antigo jogador do FC Porto, a atuar na Juventus, de Itália, filho do técnico Sérgio Conceição, que ontem completou 51 anos, tendo sido parabenizado pelo emblema que representou enquanto jogador e treinador, arrancou um espetacular remate à entrada da área e o Dragão vibrou com o golaço do Chico, a quem Roberto Martínez apelidou de “espalha brasas”. Nesta segunda metade do encontro houve ainda tempo para a estreia do jovem Carlos Forbs, jogador do Club Brugge, da Bélgica, chamado pela primeira vez à Seleção Nacional.
Roberto Martínez (selecionador de Portugal): “Agora sim, podemos sonhar com o Mundial. Gostei muito da resposta dos jogadores, com um trabalho responsável depois da derrota com a Irlanda. Agora estamos mais preparados para ir ao Mundial do que quando ganhámos os 10 jogos na qualificação para o Europeu. Foi um tributo muito bonito a Eusébio. Hoje fomos tudo aquilo o que a Seleção Nacional significa. Uma vez mais, a magia do Dragão ajudou-nos muito. Dou os parabéns aos nossos adeptos porque nos ajudara”.
É jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, publicando textos escritos em português de Portugal.

