Palácio de Cristal de muita animação, com elefantes, cavalos e leões perdura na memória da fantasia

O enorme espaço verdejante é hoje um dos pulmões da cidade do Porto, outrora o recinto da Feira Popular por onde passaram inúmeras celebridades do mundo do espetáculo

Os jardins do Palácio de Cristal estão sempre muito bem tratados. (Foto: Vaz Mendes)

Os Jardins do Palácio de Cristal foram até finais da década de 80 um espaço que anualmente, nos meses de verão, acolheu a Feira Popular. A diversão era feita de muita animação para contentamento de crianças e adultos, mas teve o seu tempo e de lá para cá tem prevalecido o cuidado com a natureza e o ambiente. Os carroceis, os carrinhos de choque e as patuscadas nas matas dos jardins deram lugar a espaços verdes bem tratados e respiráveis, onde a Cultura, na sua diversidade, passou a ser o maior dos bens daquele emblemático lugar. Hoje, o recinto recebe diversos eventos, entre os quais a Feira do Livro, exposições de arte e concertos ao ar livre. Já o Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota – outrora Pavilhão dos Desportos – acolhe os sons do rock e outros géneros musicais, onde em tempos o circo, com elefantes, cavalos e leões reinava a seu belo prazer.

Ficam as memórias de quem pôde viver experiências maravilhosas, de muito namoro que deu em casamento, dos passeios na Avenida das Tílias, dos carrinhos de choque, do algodão doce, ou de um bom jogo de matraquilhos. Assim mesmo, tudo misturado, não faltava nada no fabuloso mundo da antiga Feira Popular. Havia passeios de barco no lago esverdeado, um jardim zoológico com feras e belos exemplares exóticos, mais a boa sardinha e costeletas de carne no carvão, servidas nos restaurantes ao ar livre das matas com vista para o Rio Douro. Havia de tudo um pouco, incluindo um espaço ao ar livre por onde passavam as grandes vedetas da música ligeira portuguesa e do fado. A mais famosa, a grande fadista Amália Rodrigues, era presença assídua em espetáculos públicos de entrada livre. “Silêncio que se vai cantar o fado”, assim exige o estilo musical lusitano, nascido em Lisboa nos bairros como Alfama e Mouraria, geralmente cantado por uma só pessoa, acompanhada pela guitarra portuguesa e pela viola.

Mundial de Hóquei em Patins inaugura Pavilhão dos Desportos

Inicialmente, o edifício do Palácio de Cristal não tinha o aspeto dos dias de hoje. Inaugurado em 1865, acabou por ser demolido em 1951 para dar lugar ao Pavilhão dos Desportos. A nova construção, que se mantém até aos dias de hoje, teve como principal objetivo a realização do Campeonato Mundial de Hóquei em Patins de 1952, que Portugal venceu diante da Itália. Nesse mesmo ano a enorme nave acolheu também o Campeonato da Europa da modalidade que durante largos anos foi a mais apreciada dos portugueses, logo a seguir ao futebol. Em 1956 e 1963 o pavilhão voltou a acolher o “Europeu”, competições que também sorriram à seleção lusa, onde pontificavam grandes nomes do desporto, entre os quais António Livramento, considerado o melhor jogador de hóquei em patins de todos os tempos.

Na memória de muitos, para além dos grandes eventos desportivos ali realizados, ficam na retina os circos, numa altura em que os animais selvagens, como os leões ou os tigres, eram permitidos. E ainda havia hipopótamos, elefantes, crocodilos, cavalos, camelos, macacos, focas e até répteis que faziam a delícia de muitos, mas que deixaram de ser utilizados por via de um diploma aprovado na Assembleia da República em outubro de 2018. A lei não foi do agrado dos empresários circenses, mas tiveram mesmo que se adaptar à nova realidade, pois a proibição foi imposta para defesa do bem-estar dos animais, a maior parte deles mantidos em cativeiro para exibição em espetáculos.

Os enormes espaços verdes dos Jardins do Palácio de Cristal são nos dias de hoje um local de lazer, mas onde a Cultura está sempre presente. Um passeio num dia soalheiro propicia um contacto fácil com os pavões, patos, cisnes e gansos, assim como com diversas espécies de aves. Tudo calmo e aprazível por entre um dos grandes pulmões da cidade – o outro é o Parque da Cidade, junto ao mar -, em contraste com o rebuliço do passado. Os miradouros existentes permitem uma vista espetacular sobre parte da cidade e do Rio Douro, assim como de Vila Nova de Gaia, um dos municípios mais populacionais de Portugal. Uma vez por ano é ali que se realiza a Feira do Livro, evento que atrai milhares de pessoas e onde o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa é presença sempre garantida. Concertos, exposições e espetáculos infantis fazem parte de um cartaz que se mantém ativo ao longo do ano e que dá vida a um espaço bem preservado e protegido em defesa da Natureza.

Brasil em força no Super Bock Arena

No presente, o agora denominado Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota – as grandes marcas, no caso de uma apreciada marca de cerveja, ditam as leis -, serve na perfeição para os múltiplos concertos musicais que ali se realizam. Artistas, entre outros, como Rui Veloso, Pedro Abrunhosa ou a banda rock GNR, atualmente a celebrar os seus 45 anos, têm feito as delícias não só dos portuenses, mas de todos os amantes da boa música popular. Por norma, logo que os ingressos são colocados à venda, acontece que no próprio dia esgotam, tal a procura na internet e nos postos de venda públicos.

Até finais da década de 80, a animação era bem diversificada Foto Flor do Palácio
Até finais da década de 80, a animação era bem diversificada Foto Flor do Palácio. (Foto: divulgação)

No próximo dia 1 de novembro é a vez de Luísa Sonza, um dos maiores nomes da música pop brasileira da atualidade, subir ao palco. E logo no dia a seguir o Brasil volta a estar em força no Super Bock Arena, pois o cartaz promete ser animado com a dupla sertaneja Zé Neto & Cristiano, muito acarinhada em Portugal. E como não há duas sem três, no dia 8 de novembro Zeca Pagodinho, nome forte do samba, vem até à cidade do Porto para comemorar os seus 40 anos de carreira.

Pelo que se vê, o Brasil marca forte presença por estas bandas com a promessa de muita animação. Mais lá para a frente está já agendada a presença de Luana Pionavi com os seus “Cantos da Lua”, num espetáculo em que a artista apresenta teatro e música, combinando histórias pessoais com números musicais.

Vaz Mendes
É jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, publicando textos escritos em português de Portugal.

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