
Os portugueses foram de novo chamados a votar, desta feita para as 308 autarquias do país e assembleias municipais, bem como para as 3.221 freguesias existentes. Mais uma vez a taxa de abstenção foi alta (40,7%), mas mesmo assim inferior à registada em 2021 (46,4%) para o mesmo ato eleitoral. Os sociais democratas passaram a deter um maior número de câmaras, tendo agora 136, sozinhos ou em coligações, enquanto o Partido Socialista (PS), há largos anos dominador, conta agora com 128 autarquias. A CDU, afeta ao Partido Comunista (PC) obteve o seu pior resultado de sempre, tendo perdido sete das 19 câmaras que detinha, e o partido Chega, de extrema-direita, capitalizou três municípios. Nas duas principais cidades, Lisboa manteve o seu presidente, e o Porto passou a ser liderado por um social democrata. A luta com os socialistas chegou a ser renhida, mas o maior partido da coligação do Governo (PSD) levou a melhor.
Num dia de autêntico verão em plena estação de outono, Portugal voltou a votos para um ato eleitoral bem importante para a vida dos seus cidadãos, pois o poder local é determinante para o bem-estar das populações. As câmaras municipais e as juntas de freguesia assumem-se como autênticos pilares da democracia, dada a proximidade existente com os seus concidadãos. A campanha eleitoral decorreu em tom animado, sem quaisquer problemas, e as sucessivas sondagens que foram sendo feitas apontavam para um equilíbrio de forças entre os dois principais partidos portugueses (PSD e PS), com ligeira vantagem para os sociais-democratas. Mesmo com toda a polémica que tem afetado o governo liderado por Luís Montenegro – entre outros casos, o ruído criado à volta da empresa do responsável pelo atual executivo, bem como o ambiente muito delicado que se vive na área da Saúde -, o certo é que estas eleições mostraram que o líder da Direita tem passado incólume aos olhos da maioria. Basta salientar que há 32 que um partido no Governo não ganhava as eleições autárquicas, com a agravante de os socialistas terem perdido a Associação Nacional de Municípios Portugueses, órgão que detinha há 12 anos.
Cidades mais populacionais pintadas a laranja
Se bem que este ato eleitoral tenha de ser analisado num plano global, o facto é que a expectativa maior residia no que iria suceder nas principais cidades portuguesas, principalmente Lisboa e Porto. A capital portuguesa, liderada nos últimos quatro anos por Carlos Moedas (PSD) não mudou de mãos, mas o autarca teve a vida complicada, pois as sondagens apontavam para um empate técnico e, em alguns casos, para uma ligeira supremacia socialista. Contudo, Moedas acabou por ser reeleito, ainda que sem maioria absoluta ao bater Alexandra Leitão (PS). O recente e trágico acidente com o Elevador da Glória, que vitimou mortalmente 16 pessoas, como então o PortalR3 noticiou, não mereceu a condenação do político, tanto mais que decorre um inquérito para apurar responsabilidades.

Já na cidade do Porto a luta entre Pedro Duarte (PSD) e Manuel Pizarro (PS) também foi bem intensa e o social-democrata levou a melhor em número de votos, ainda que ambas as forças em disputa fiquem com o mesmo número de vereadores. Após um reinado de 12 anos, o independente Rui Moreira atingiu o limite de número de mandatos permitidos (três) e já se adivinhava que o equilíbrio iria imperar. A segunda maior cidade portuguesa em termos de importância, que não em número de habitantes, enfrenta problemas comuns ao país, nomeadamente os que resultam da falta de habitações e os seus elevados custos. A segurança e o desemprego são outros fatores de instabilidade, pelo que estes temas dominaram toda a campanha eleitoral com as habituais promessas de circunstância. Passar das palavras aos atos é a grande tarefa de Pedro Duarte, um político experimentado, de 52 anos, e que foi ministro dos Assuntos Parlamentares entre 2024 e 2025.
Também Sintra, vizinha da capital Lisboa e a segunda cidade mais populacional, foi parar às mãos de Marco Moreira (coligação PSD/IL/PAN), que venceu à terceira tentativa ao derrotar a candidata Ana Mendes Godinho, encerrando assim 12 anos de governação socialista. Curiosamente, as sondagens apontavam para um empate técnico entre três partidos, com Rita Matias, do Chega, a fazer parte das contas. Não foi o caso, pois a candidata que integra o grupo parlamentar de extrema-direita liderado por André Ventura ficou muito longe dos seus opositores. Refira-se, a propósito, que esta força política – a segunda maior do parlamento, depois de ter ultrapassado o Partido Socialista nas últimas eleições legislativas – esteve muito aquém do que tinha previsto. Porém, o Chega tem agora três presidentes de câmara: Albufeira, na região do Algarve, Entroncamento, no distrito de Santarém, e São Vicente, na Ilha da Madeira. O CDS-PP, partido que integra o Governo, manteve seis autarquias, mais uma em coligação, o que levou o seu presidente Nuno Melo, atual ministro da Defesa, a anunciar “um ciclo de crescimento” para a sua força política.
Em Vila Nova de Gaia, cidade separada do Porto pelo Rio Douro, venceu Luís Filipe Menezes (PSD/CDS/IL), que voltou à ribalta passados 12 anos, ao derrotar o candidato socialista João Paulo Correia. O antigo líder social-democrata, de 71 anos, que se revelou extremamente emocionado, anunciou a intenção de realizar auditorias às contas da governação do seu antecessor na edilidade gaiense. Menezes recebeu a visita do primeiro-ministro Luís Montenegro, que se encontrava bem perto, na cidade de Espinho, onde tem residência, da mesma forma como fez com Pedro Duarte, o novo presidente da Câmara Municipal do Porto.
Mais alaranjado, o mapa autárquico foi substancialmente alterado, valendo ao Partido Socialista a conquista de câmaras como Viseu e Bragança, outrora autênticos bastiões do PSD. Mais importante para o partido liderado por José Luís Carneiro foi o facto de não voltar a sofrer uma hecatombe eleitoral, depois de há poucos meses ter perdido as eleições legislativas para o PSD, tendo sido mesmo ultrapassado pelo Chega. O partido de André Ventura tinha razões para projetar um outro resultado, que chegou a apontar para as três dezenas de presidências de câmara, pelo que ficou muito aquém do estimado. O Chega é um partido anti-sistema e tem-se valido de um certo populismo que acolhe os votos dos mais inconformados, tanto à direita como à esquerda. Goste-se ou não, Ventura é um líder nato e tem em janeiro de 2026 mais um tremendo desafio, pois recentemente anunciou a sua candidatura à Presidência da República.
