
“Onde vamos hoje? Olha, podíamos ir comprar um peixinho a Angeiras, ficamos pela praia até à hora de almoço e comemos por lá”. Este é já um ritual comum a muitas pessoas, especialmente para os habitantes das redondezas, que não desperdiçam a oportunidade de um dia bem passado sem grandes custos. São pouco mais de uma quinzena os quilómetros que separam a cidade do Porto de Angeiras.
Não é que falte nada na segunda maior cidade de Portugal, logo a seguir à capital Lisboa, mas a curta viagem à pequena vila matosinhense pode ser bem aproveitada. O peixe, bem como o marisco, é famoso pela sua frescura e qualidade e o mercado tornou-se um local de visita obrigatória. Boa sardinha, bom carapau, excelentes lulas, ameijoas deliciosas… há de tudo um pouco para quem opta pelo produto do mar, pois a carne, por estes lados, não vai lá muito bem com a cara do aprazível local.
O passeio desde o Porto é feito quase na totalidade pela zona costeira. Chegados a Matosinhos é só passar Leça da Palmeira e eis-nos chegados a Angeiras. A paisagem não poderia ser mais deslumbrante, pois o areal rochoso tem “segredos” bem guardados. Enterrada sob as areias da praia abrem-se os espetaculares “monumentos” arqueológicos do Baixo Império Romano (séculos IV / V d. C.), os chamados tanques romanos, na sua grande maioria de formato retangular – num total de 32 exemplares -, outrora destinados à salga do peixe e à produção de conserva. Segundo a história, foram ainda identificados outros tanques de natureza artificial, delimitados por seixos e barro, que se destinavam à extração de sal a partir da água do mar. Aliás, a vila contempla diversos vestígios da época, fruto das diversas escavações efetuadas, que revelaram mosaicos e diversas cerâmicas que podem ser apreciadas no Museu de Etnologia do Porto.
Brasas de manhã à noite e muita qualidade à mesa
Naturalmente que o peixe assado em carvão é bastante apreciado e apetecível, ainda que uma boa caldeirada não seja de desperdiçar. Assim com umas belas amêijoas à Bulhão Pato ou um polvo cozido com todos – batatas, cenouras, couve e ovos, temperado com azeite e vinagre. A sardinha, por esta altura do ano, está bem mais gordinha e a desovar, pelo que é mais apetitosa. Há quem a coma no pão, a pingar – a gordura -, mas habitualmente é servida com batata cozida e salada de pimentos. Pescada diariamente, tem uma cor de prata, mas é ouro ao paladar. Uma sardinhada à maneira é um prato que se come em todos os restaurantes das imediações, mas convém fazer reserva, pelo menos na estação de verão.

Banhada pelo Oceano Atlântico, a praia de Angeiras possui um areal muito extenso e rochoso, pelo que é preciso muito cuidado com o mar. Não tendo correntes fortes, contudo os desníveis não são propícios a grandes aventuras, principalmente a quem não souber nadar. A água é um pouco fria, provocada pelos ventos vindos do Norte, um fenómeno comum àquela zona costeira que se estende até Valença, fronteira da vizinha Espanha. Mas como há muita rocha nada melhor que estender a toalha num lugar abrigado para apanhar um pouco de sol, sempre com protetor, pois os raios ultravioleta estão bem intensos.
Não se tratando de uma zona de muito turismo, contudo possui um parque de campismo modelar, muito frequentado pelos habitantes da cidade do Porto durante os fins de semana e férias. Um hábito que se enraizou há muitos anos, pois o ambiente familiar ao ar livre – mais as patuscadas no carvão – sempre dá para descomprimir de um ano de trabalho. O parque dispõe de piscina e boas esplanadas, envoltas por um arvoredo deslumbrante, convidativas a quem gosta de acampar. Por norma o parque está sempre bem composto, maioritariamente com “habitantes” das imediações, mas o espaço é generoso e permite arranjar vagas para as tendas e autocaravanas.
É, pois, em ambiente um tanto ou quanto selvagem à beira-mar que se pode encontrar este autêntico paraíso piscatório e balnear, típico pela sua gastronomia. Angeiras convida ainda a uns bons passeios nos passadiços em madeira junto ao oceano que se estendem por mais de sete quilómetros. “Matosinhos é mar o ano inteiro”, esta é a promoção da defesa da linha de costa e proteção ambiental, um objetivo delineado para preservação de um bem que recentemente foi alvo de obras de requalificação no valor de mais de dois milhões de euros.
