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Nazaré repleta de tradições num mar imenso, abençoada por Nossa Senhora que a lenda eternizou

Conhecida pelas ondas gigantes que no inverno fazem as delícias dos surfistas de todo o mundo, a linda cidade portuguesa da província da Estremadura encanta pela diversidade de cenários montados na areia e na pedra

Nazaré (Portugal) e sua belezas culturais, naturais e gastronômicas. (Foto: Vaz Mendes)

Nesta altura do ano em Portugal estamos em pleno verão e com temperaturas anormalmente elevadas – alguns locais ultrapassaram os 40º C –, mas ac, a uma centena de quilómetros da capital Lisboa, é visita quase obrigatória. O nome está ligado à Lenda de Nossa Senhora de Nazaré e remonta ao ano de 1182. Reza a história que o alcaide D. Fuas Roupinho andava entretido com a caça e começou a perseguir um veado, tendo corrido perigo de vida no cimo de uma falésia devido ao intenso nevoeiro. Ao aperceber-se que estava ao lado de uma gruta onde se venerava uma imagem da Virgem Maria com o Menino Jesus rogou em voz alta a pedir ajuda divina. O cavalo parou de repente no alto de um penedo rochoso, salvando-se o cavaleiro e a montada da morte quase certa de uma queda de mais de cem metros.

Como reconhecimento do milagre, D. Fuas mandou de imediato construir uma pequena capelinha existente no Sítio, local situado no topo de uma escarpa, conhecida como Ermida da Memória, classificada como Imóvel de Interesse Público. Posteriormente, durante o reinado do monarca Dom Fernando, no século XIV, iniciou-se a construção do Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, com boa capacidade para receber os devotos da Virgem. Local turístico por excelência, o templo oferece uma visita de rara beleza, com esculturas fabulosas, para lá do revestimento em mosaico, um património que orgulha os nazarenos, profundos católicos e orgulhosos da sua Nazaré que anualmente atrais milhares de visitantes, muitos em peregrinação dada a importância religiosa da ermida e do santuário do Sítio.

O mar que dá… e o mar que tira

Estamos numa terra de pescadores e com fortes tradições aos oceanos. Os homens enfrentam diariamente o mar e as mulheres esperam na praia pelo peixe, vestidas com as suas sete saias, trajes tradicionais ainda em moda. Já aqui assinalamos noutros textos, as ondas gigantes do mar da Nazaré, que chegam a atingir 20 metros, são um autêntico chamariz aos surfistas profissionais de todo o mundo. O fenómeno, conhecido como canhão da Nazaré, é típico das estações mais frias, principalmente no inverno, sendo uma das maiores atrações para os amantes deste tipo de desportos radicais, mas não só, pois a curiosidade e o espetáculo constituem um misto de entusiasmo e adrenalina. Mas aquele mesmo mar, o dos pescadores, também já conheceu muitas tragédias.

São muitas as ocorrências fatais ao longo da história, uma delas ocorrida em 1907 com o naufrágio da embarcação “Salsinha” e a perda de 13 vidas. Em janeiro de 2006 um outro barco, o “Francelina Maria”, foi apanhado pela forte ondulação e dois dos três tripulantes perderam a vida no fatídico acidente. Em dezembro de 2022 o mar foi cruel para três tripulantes do “Letícia Clara” e em julho de 2024 o mar roubou a vida a seis pescadores quando a traineira “Virgem Dolorosa” naufragou ao largo da Marinha Grande, não muito longe das águas da Nazaré. O historial é longo e doloroso, mas esta gente ama o mar e vive dele, sempre com o perigo à espreita. Não só na Nazaré, mas em todas as vilas piscatórias ao longo da costa, casos das Caxinas, em Vila do Conde, ou da vizinha Póvoa de Varzim.

Por outro lado, as praias dos vastos areais nesta e noutras zonas balneares, de águas temperadas, são convidativas a bons e reconfortantes mergulhos. Mesmo com a proteção ativada nos meses de verão, o certo é que até ao fim de julho registaram-se 75 mortes por afogamento em Portugal continental no mar e em rios. Contudo, estes lamentáveis e tristes episódios aconteceram em locais não vigiados, pelo que, inadvertidamente, as pessoas colocaram em risco as suas vidas e, em alguns casos, a dos outros. Refira-se a propósito que o município da Nazaré foi o primeiro a ter vigilância balnear durante todo o ano, o que acabou com os afogamentos, depois de em 2017 terem morrido nove pessoas na praia em plena primavera.

De regresso ao Sítio no centenário ascensor

A cidade do Oeste português oferece uma diversidade de cenários encantadores, quais quadros pintados por renomados artistas. A pitoresca e colorida Nazaré é ela própria um “quadro” de invulgar beleza, tais os encantos que oferece a quem a visita. A subida ao Sítio para a visita ao santuário e à pequena ermida pode ser feita a pé – as peregrinações assim o exigem, ainda que muitos aproveitem a escalada para a prática de exercício físico -, ou num qualquer transporte privado ou público. Mas não há nada como subir ao Sítio no centenário ascensor da Nazaré e apreciar as fabulosas vistas panorâmicas que nos é oferecida no curto trajeto.

O popular elevador foi inaugurado em 1889, servindo de transporte para moradores e visitantes, facilitando o acesso entre as duas zonas da vila para se cumprir a distância de 318 metros com uma inclinação de 42%. Este funicular foi adquirido pela Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, em 1924, para em 1932 ser vendido à câmara municipal, entidade responsável pela utilização e conservação deste meio de transporte considerado Património Municipal.

Secagem do peixe é tradição ancestral

Um dos muitos motivos que despertam a curiosidade dos que vêm para esta zona é a quantidade de peixe seco colocado ao sol nos chamados paneiros ao longo da extensa avenida junto à praia. Trata-se de uma herança cultural das gentes nazarenas, que visa conservar o pescado depois de amanhado e limpo, e que pode ser apreciado em todo o seu processo no Museu do Peixe Seco da Nazaré. A salmoura é feita em água e sal grosso, sendo os peixes mais comuns o carapau e a sardinha, mas também o pescado maior como o sargo e o safio, ou mesmo os moluscos, como o polvo. Inicialmente, a secagem visava a conservação do produto para consumo em tempos de escassez ou quando o mar impedia a pesca, mas hoje é um pitéu muito apreciado pelos turistas.

O roteiro da Nazaré oferece toda uma série de atrações feitas de tradição e originalidade. Um passeio pela vila, bem agitada por estes dias, revela-nos a vida de gente humilde e trabalhadora, com o Oceano Atlântico sempre presente. Curioso é ver em quase todos os locais o negócio já tradicional do aluguer de quartos, por norma anunciado pelas mulheres mais velhas. Sempre fica mais barato do que a estadia num hotel, por esta altura com preços muito inflacionados por via do turismo. A moda pegou e é para continuar, ainda que a internet seja mais prática para o efeito. Entre os muitos afazeres dos nazarenos, a atividade é uma constante e a cidade vibra até de madrugada, com muita música à mistura – os grupos de capoeira brasileiros estão na moda – e os mais populares músicos portugueses do fado ou da música ligeira, sempre presentes em arraiais e festas patrocinadas pelas várias entidades da região.

Vai uns caracóis e umas imperiais e venha daí a mariscada!

Pois bem, eis-nos chegados ao prato principal, que é como quem diz, vamos lá pôr os pés debaixo da mesa, que isto de andar a passear à beira-mar abre o apetite. Na Nazaré não falta nada, mas o peixe e o marisco não podem substituir a carne. Há sempre a hipótese de se degustar um bife, mas não se pode perder uma boa mariscada. O que cai sempre muito bem é um arroz de marisco com lagosta servido num dos muitos restaurantes da cidade. Não é necessária muita procura, nem sequer há tempo para escolhas, pois o importante é assegurar os lugares à mesa o quanto antes. Aconselhável é também uma caldeirada de peixe fresco ou um bacalhau na brasa, pratos de comer e chorar por mais.

Por fim, mas não menos delicioso – para quem gostar e não lhe meter impressão – é deliciar-se com um pratinho de caracóis, acompanhado de umas imperiais (copo pequeno de cerveja) bem fresquinhas. A carne de caracol é rica em proteínas e pobre em gorduras, para além de fornecer outros minerais essenciais como o ferro, magnésio, fósforo, selénio e cálcio. Claro que ninguém pede caracóis a pensar no bem que faz, pois “aquilo” é tão bom que o pratinho – e as imperiais – vai-se embora num abrir e fechar de olhos. Não faz mal, pede-se outro, afinal estamos na Nazaré e há coisas que são imperdíveis. Que ricos caracóis!

Mick Jagger optou por variedade de peixes

Atualmente em gozo de férias, Mick Jagger, de 83 anos, o célebre e lendário vocalista dos britânicos The Rolling Stones, iniciou em Lisboa a sua visita a Portugal na companhia do filho Lucas Jagger, de 26 anos, fruto da relação antiga com a apresentadora brasileira Luciana Gimenez. Depois de passar por Coimbra, a cidade dos doutores, dos amores, fez uma incursão à Nazaré, antes de viajar para a cidade do Porto. A popular banda tinha programada uma digressão pela Europa para 2025, que incluía um concerto em Lisboa, entretanto cancelada por “razões logísticas”, o que permitiu a Jagger aproveitar parte do tempo para gozar um período de férias, tipo digressão cultural, escolhendo Portugal como um dos países de passagem.

Mick Jagger, o ilustre visitante da Nazaré, com o staff do restaurante onde almoçou. (Foto: Taberna D’Adélia)

Na Nazaré optou pela Taberna D´Adélia, um espaço bem conhecido pela qualidade de peixes e mariscos recomendado pelo Guia Michelin. O icónico músico optou por croquetes de tinta de choco, peixe salgado frito, arroz de tomate e açorda de ovos com muxama de atum, permanecendo naquele local por um par de horas. Dizem que a simpatia e a simplicidade do artista dominou as atenções dos que com ele tiveram a oportunidade de conviver, naturalmente numa sala privada, pois de outra forma por certo que não poderia saborear à vontade as delícias gastronómicas da Nazaré.

Nazaré

Ainda hoje dormi na praia
Na acalmia da maré
E a lua inundou-me os olhos
E o mar despido afundou-me a fé
E hoje de que serve a jura
Se ele à praia não vai voltar
Esperei na noite mais escura
Até ver na água o azul clarear
Ai Nazaré

Deixa-me embalar o mar
Deixa-me embalar o mar
E o sal no brilho dos olhos
Sabe a tristeza sem fim
Que hoje o mar abraça e leva
O que Deus quis e arrancou de mim
Ai Nazaré

(…)

Mafalda Veiga (cantora e compositora portuguesa)

Vaz Mendes
É jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, publicando textos escritos em português de Portugal.

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