
O Vale do Paraíba nasceu entre rios, montanhas e histórias. Desde cedo, foi também solo fértil para o empreendedorismo. Antes mesmo de chamarmos assim, esse impulso de criar, negociar e transformar já corria nas veias da região.
No Vale Histórico, as grandes fazendas de café ditaram o ritmo da economia no século XIX. Cidades como Bananal floresceram ao redor dessa monocultura, e nomes como Maria Joaquina, que se destacou como mulher de visão à frente de uma dessas propriedades, tornaram-se símbolos de um tempo que o historiador Diego Amaro tão bem descreve em seu livro (acesse: https://blog.diegoamaro.com/obras/maria-joaquina-de-almeida-a-senhora-do-cafe/).
“Nascida em Taubaté, Maria Joaquina representou vários papéis sociais: foi a jovem namorada, a esposa fiel, a mãe e educadora e, após a morte do marido, a administradora de suas propriedades e a comandante de uma excepcional fortuna“, afirma o escritor Diego Amaro em seu site oficial.
O café, com sua força e contradições, moldou a paisagem e a cultura. Mas não parou por aí.
O tempo passou, e o Vale se reinventou. Vieram as ferrovias, as fábricas, os centros urbanos se modernizando. São José dos Campos virou sinônimo de tecnologia e inovação, e hoje abriga um dos mais importantes polos aeroespaciais do país. O que começou com cafezais virou parque tecnológico, pesquisa de ponta, startups.
Será que é porque somos diferentes e versáteis?
“ O Vale do Paraíba é rico em diversidade étnica e cultural, além da pluralidade de identidade que se pode encontrar como índios, afrodescendentes, imigrante, sertanejo, piraquara, caiçara, caipira, entre outros“, diz o artigo A Cultura do Vale do Paraíba, de Daniela Amália Ochoa, Gabriella Mamede de Oliveira, Profª Drª Ana Enedi Prince, da UNIVAP.
Mas o Vale é mesmo vasto e múltiplo.
As cidades seguem suas vocações — o turismo de montanha em Campos do Jordão e Cunha, o religioso em Aparecida, o gastronômico em São Luiz do Paraitinga, o de praia em Ubatuba, o de esportes, considerando a excelente localização geográfica da nossa região, são alguns dos exemplos. Cada canto com sua alma, sua forma de empreender.
Falo com propriedade de Aparecida, minha cidade natal. Ali, aprendi cedo o valor do trabalho e do improviso: junto da minha família, tivemos banca, vendemos caldo de cana, carteiras, quinquilharias. Fizemos parte do comércio que pulsa ao redor da Basílica e move a cidade.

Em Aparecida do Norte, nome popular, entendi que empreender é, muitas vezes, encontrar soluções na ponta dos dedos, com criatividade e fé. É também usar o gogó para chamar a atenção do romeiro. Lembro, com certo saudosismo, a vizinha da banca gritando:
— Três pares de meia, 10 reais!
Isso, em meados da década de 1990. Agora não recordo mais o preço, mas afirmo com certeza que, se deseja produtos baratos, variedade e reencontros, é em Aparecida que vai encontrar.

Hoje, Aparecida ostenta um dado impressionante: desde 2017, são mais de 36 mil leitos disponíveis — ou seja, há, em média, um leito por habitante. Um reflexo direto da vocação empreendedora da população, que transforma cada romaria em oportunidade, cada feriado religioso em planejamento estratégico. Isso, sem contar o Rio Paraíba, o gigante que banha os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e que, além de abastecer torneiras e chuveiros, enche também o bolso de muitos empreendedores. Em Aparecida, a balsa recebe inúmeros turistas todo fim de semana. Acesse: https://www.turismo.sp.gov.br/conheca-a-regiao-turistica-vale-da-fe
É também em Aparecida, que muitos negócios passam de geração em geração. E isso também se repete em outros cantos do Vale. Em Taubaté, o empreendedorismo tradicional pulsa na batida do coração de cada figureira.
“A maior expressão do folclore de Taubaté tem endereço: é a rua da Imaculada, onde as casas são coloridas e, num cantinho de cada moradia, a expressão da fé e da cultura popular nasce a partir do barro moldado pelas mãos hábeis de figureiras. É uma arte passada de geração em geração, surgida em Taubaté, cidade do Vale do Paraíba, na época do Brasil Colônia, irradiada a partir do convento de Santa Clara onde, desde o século XVIII, os freis estimulavam os moradores do povoado a fazer presépios usando o barro abundante na região”, diz o artigo A Cultura do Vale do Paraíba, cujas as autoras estão acima elencadas.
Acesse a página das figureiras em https://redeartesol.org.br/rede/casa-do-figureiro/

Essa mentalidade está também nas salas de aula. Quando trabalhei no UNISAL em Lorena, em 2015, vi nascer ali um centro de empreendedorismo que me apresentou, pela primeira vez, ao conceito de intraempreendedorismo — aquele espírito que habita também quem está dentro das empresas, propondo, inovando, liderando mudanças.
Há quem monte o próprio negócio, de forma tradicional ou disruptiva. E há quem empreenda onde está, com consciência e atitude. O importante é que o movimento não para.
Em junho último, participei de um encontro promovido pelo Sebrae-SP, em Guaratinguetá, que reuniu jornalistas da região. Foi um daqueles momentos de inspiração coletiva, onde se vê, olho no olho, a força de quem decidiu inovar na comunicação — mesmo diante de tantos desafios. Tinham locutores, assessores de imprensa, radialistas, redatores, repórteres…
O Sebrae nos lembrou do alcance do seu trabalho: são mais de dois mil produtos e serviços para micro e pequenas empresas, a maioria gratuitos, que atendem desde o produtor rural até o empreendedor digital. O que mais me tocou foi perceber que eles não atendem apenas negócios — eles acolhem histórias. E essas histórias têm poder de acender novas chamas, de impulsionar outras.
Cito aqui, com carinho, mulheres empreendedoras de Guaratinguetá premiadas pelo Sebrae Mulher de Negócios, ou ainda os empreendedores que viraram consultores por força do próprio exemplo. São trajetórias que nos mostram que o Vale do Paraíba é, acima de tudo, terra de cabeças pensantes e corações valentes.
Como empreender é também dar conteúdo a novas linhas na comunicação, recebi uma sugestão de pauta bem interessante e fiz questão de trazê-la na próxima coluna, justamente pela ideia criativa e empreendedora dessa empresária de Lavrinhas.
O Castelo Santa Clara é o primeiro castelo aberto ao público para hospedagem da região. De fácil acesso, está localizado no km 13 da Rodovia Presidente Dutra.
“A ideia de construir um castelo inspirado nos castelos medievais surgiu quando visitei a Itália e conheci as propriedades históricas da região. Sou carioca, mas me apaixonei pelo Vale do Paraíba. Quando conheci essa área, fiquei encantada com as belezas naturais e a imponência da Serra da Mantiqueira”, conta Leila Sodero, proprietária do Castelo Santa Clara. Acesse e visite: https://www.instagram.com/castelo.santa.clara/

Viu? Até quem respira os ares do Vale se encanta por nossa região e volta, seja para visitar seja para empreender. O quintal do Vale tem todas as espécies.
Além da empreendedora Leila, trago criatividade vinda também de Areias. Minha mãe Paula é de lá, e meu coração, por tabela, também.
O Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul trouxe uma nota, há algum tempo, que achei bem relevante dar eco. Trata-se de um concurso sobre as 07 maravilhas da cidade, que vão desde igrejas, fazendas, mirantes, escolas.

A antiga vila, fundada em 1816 com o nome de São Miguel das Areias — uma homenagem ao príncipe D. Miguel, filho de D. João VI — foi elevada à categoria de cidade em 24 de março de 1857. Entre suas muitas curiosidades históricas, destaca-se o fato de ter recebido Dom Pedro I em 1822, durante a viagem em que proclamaria a Independência do Brasil. Dos tempos imperiais aos dias de hoje, Areias preserva um valioso conjunto de patrimônios arquitetônicos, históricos, culturais e gastronômicos, que hoje compõem seus principais atrativos turísticos. Acesse: https://ceivap.org.br/revista_digital/ed14/onde-o-rio-nasce-e-a-historia-reina e se encante com Areias. Acesse também: https://www.instagram.com/reel/DHlKsqpxWC5/
Empreender, afinal, é uma forma de existir. E o Vale, com sua história, sua diversidade e seu povo, continua sendo palco de muitas existências que não se contentam em apenas passar pelo mundo: elas querem transformá-lo.
FONTES DO TEXTO
AMARO, Diego. Obras Maria Joaquina. [s.d.]. Disponível em: https://blog.diegoamaro.com/obras/maria-joaquina-de-almeida-a-senhora-do-cafe/. Acesso em: 14 jun. 2025.
APARECIDA (Município). Turismo na cidade. Aparecida: Prefeitura Municipal, 2025. Disponível em: https://www.aparecida.sp.gov.br/. Acesso em: 17 jun. 2025.
CEIVAP – Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Onde o rio nasce e a história reina. [s.d.]. Disponível em: https://ceivap.org.br/revista_digital/ed14/onde-o-rio-nasce-e-a-historia-reina. Acesso em: 5 jun. 2025.
OCHOA, Daniela Amália; OLIVEIRA, Gabriella Mamede de; PRINCE, Ana Enedi. A cultura do Vale do Paraíba. São José dos Campos: Univap, [s.d.]. p. 2. Disponível em: https://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2006/inic/inic/05/INIC000077%20oik.pdf. Acesso em: 16 jun. 2025.
PortalR3 (Pindamonhangaba).SEBRAE Escritório Guaratinguetá realiza Encontro com Jornalistas, 2025. Disponível em: https://www.portalr3.com.br/2025/06/24/sebrae-escritorio-guaratingueta-realiza-encontro-com-jornalistas. Acesso em 28 jun. 2025.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Turismo. Conheça a Região Turística Vale da Fé. [s.d.]. Disponível em: https://www.turismo.sp.gov.br/conheca-a-regiao-turistica-vale-da-fe. Acesso em: 5 jun. 2025.
