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FC Porto bate Boavista (2-1) e decide praticamente a luta pelo 3º lugar na Liga Portugal ao beneficiar do trambolhão do SC Braga

Clube axadrezado, um dos históricos da cidade do Porto, que já foi campeão nacional e passeou classe na Europa, ocupa o último lugar da tabela e pode estar condenado à descida de divisão

Hitórico Boavista está prestes a descer ao escalão secundário do futebol português (Foto Boavista FC)
Hitórico Boavista está prestes a descer ao escalão secundário do futebol português. (Foto: Boavista FC)

Se em relação ao título ficou tudo adiado, pelo menos em termos matemáticos, para a última ronda da Liga Portugal, ainda que os adeptos do Sporting já tivessem começado a fazer a festa depois do recente empate a uma bola com o Benfica, outros emblemas só irão saber o seu destino na última jornada da prova. O caso mais dramático é o do Boavista, lanterna vermelha do principal campeonato português, que terá de vencer fora o Arouca e aguardar pelos resultados dos seus parceiros de infortúnio, o Farense ou o AVS Futebol. Vida muito difícil para o clube que veste de xadrez, outrora um emblema pujante e grande rival do FC Porto, com quem protagonizou intensos, acalorados e bem disputados dérbis da cidade Invicta.

Vítima de um descalabro financeiro de enorme dimensão, esse Boavista que até venceu a Liga Portugal e chegou a passear classe pela Europa – o tal “Boavistão” como era chamado durante a vigência do carismático dirigente Valentim Loureiro -, vive hoje nas ruas da amargura. Impedido durante muito tempo de inscrever jogadores pela UEFA devido à acumulação de dívidas, o histórico clube do Bessa estava obrigado a pontuar com o FC Porto para ainda sonhar com a permanência entre os primodivisionários do futebol luso. Não é que isso ainda não seja possível, mas fica a depender de terceiros e o cenário é mesmo cruel, pois ocupa a última posição da tabela com menos três pontos do que os seus adversários diretos na luta pela sobrevivência.

Claro que esta partida com o FC Porto não era fácil, mas dado o momento menos positivo que os dragões atravessam, aliado ao facto de atuarem diante do seu público, o Boavista ainda foi alimentando alguma esperança. Contudo, desde muito cedo que se viu a vontade férrea dos azuis e brancos em arrumarem a questão a seu favor, pois só a vitória interessava para se isolarem no terceiro lugar da tabela, o único que que dá acesso direto à próxima edição da Liga Europa. Ao beneficiarem da inesperada derrota do SC Braga na deslocação do clube arsenalista ao reduto do Casa Pia (2-1), os dragões ficaram com via aberta para ficarem mais sossegados. Por isso o último jogo do campeonato a disputar no Estádio do Dragão frente ao Nacional da Madeira será de festa, a possível como é óbvio, pois o FC Porto costuma lutar por outros objetivos, ou seja, pelo título. Isolados no terceiro lugar, com mais três pontos do que os bracarenses, os azuis e brancos são manifestamente favoritos, tanto mais que os guerreiros do Minho defrontam no seu reduto o Benfica, que ainda sonha com o título. É pois, num cenário de algum suspense que no próximo sábado tudo ficará decidido, situação nada comum no futebol português, mas que certamente trará emoções bem fortes aos amantes do desporto-rei.

Golo monumental de Mora, o primeiro na maioridade
Acabado há dias de completar 18 anos, Rodrigo Mora voltou a construir uma autêntica obra de arte do Estádio do Bessa, quando, aos 20 minutos, o jovem prodígio colocou a bola ao ângulo superior da baliza boavisteira – na gaveta como se diz na gíria -, depois de um fantástico drible sobre um adversário. Mais um golaço para o miúdo que chegou à maioridade no passado dia 5 deste mês. A propósito, o craque dos dragões assinou um contrato com o FC Porto válido até 2030 com uma cláusula de rescisão de 75 milhões de euros, verba que não terá agradado à administração dos dragões, pois fica facilmente à mercê dos chamados tubarões europeus. Mora é agenciado pelo bem conhecido empresário Jorge Mendes e, a continuar a jogar e a marcar golos como tem feito até à data, o mais certo é a mudança de ares, ainda que pouco provável já na próxima temporada.

Com o Boavista ferido, o FC Porto persistiu numa toada atacante no nítido intuito de rapidamente chegar ao segundo golo, o que viria a acontecer poucos instantes depois: canto favorável aos azuis e brancos e grande confusão na área, com desvio final do veterano central espanhol Marcano, após remate de Nehuén Perez. A propósito, refira-se que o defesa internacional argentino foi recentemente adquirido em definitivo à Udinese, da Itália, por uma verba a rondar os 13 milhões de euros. O Boavista caía com estrondo em pleno Estádio do Bessa e os seus fervorosos adeptos começavam a ver esfumar-se a hipótese da permanência entre os maiores do futebol português.

Os axadrezados lutaram muito e caíram de pé (Foto Boavista FC)

Axadrezados ainda sonharam com penálti bizarro
O grande caso do jogo aconteceu ainda na primeira parte com o Boavista a reduzir a desvantagem através de uma grande penalidade num lance bizarro, anedótico mesmo, e nunca visto. Numa jogada em que o defesa central Zé Pedro alivia a bola, de costas para a baliza, a bola bate casualmente no braço de Nehuén Perez. Segundo o International Board, o organismo que rege as leis do futebol, lances desse tipo jamais poderão ser castigados, pois o jogador não teve nenhuma intenção em cortar deliberadamente a bola com o braço, nem tão pouco era uma jogada de perigo para a baliza portista. O árbitro assinalou de pronto o castigo máximo sem recurso às imagens, pelo que o mais certo é desconhecer esta lei específica de jogo. O Boavista aproveitou a dádiva e o médio Miguel Reisinho bateu o guardião Diogo Costa.

A partir daí o Boavista acreditou que era possível dar a volta ao resultado e a partida foi relançada. O FC Porto passou por alguns momentos de menor acerto, mas também teve algumas oportunidades para marcar, não fosse a pouca clarividência do atacante espanhol Samu em alguns lances em que teve o golo à mercê nos pés e na cabeça. Estranha foi a retirada de Rodrigo Mora a meio da segunda parte – estava a ser de longe o melhor elemento dos dragões -, mas Martín Anselmi teve de reforçar a sua defesa no intuito de não sofrer uma contrariedade indesejável. E quando teve de jogar em inferioridade numérica face à expulsão de Nehuén Perez, por acumulação de cartões amarelos quando faltavam jogar 13 minutos (oito, mais cinco de descontos), o técnico argentino foi mesmo obrigado a meter “trancas à porta”.

Stuart Baxter (treinador do Boavista): “Os jogadores, nos primeiros minutos, não estiveram positivos como no resto do jogo. O FC Porto marcou dois golos muito bons, mostraram a qualidade deles e gradualmente conseguimos reentrar no jogo. Durante uma hora, fomos muito competitivos e, com um pouco de sorte, poderíamos tirar algo do jogo. Tentámos tudo o que pudemos para empatar, até arriscámos sofrer o terceiro golo. Por esse lado, estou satisfeito com a exibição.”

Martín Anselmi (treinador do FC Porto: “Quero destacar o ambiente que vivemos hoje. Já não presenciava um ambiente assim num estádio de futebol há muito tempo. Estou encantado com o clima que se viveu neste dérbi, foi espetacular. Durante a primeira parte eles não fizeram praticamente remates à baliza e conseguiram reduzir através de um penálti. Depois disso não estivemos bem nas transições, custa-nos às vezes chegar ao outro lado, há muita ansiedade, mas destaco a atitude, competitividade e entrega dos jogadores. Foi um dos melhores jogos desde que cheguei.”

Vaz Mendes
É jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, publicando textos escritos em português de Portugal.

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