
O Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil (MB) anunciou a criação da Escola de Drones do Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (CIASC) para o próximo ano. A divulgação aconteceu durante o 1º Workshop sobre o Emprego de Drones e o 1º Campeonato de Drones Militares do CFN, nos dias 26 e 27 de novembro, no CIASC, no Rio de Janeiro (RJ).
Segundo o Comandante do CIASC, Contra-Almirante (Fuzileiro Naval) Luis Manuel de Campos Mello, o Workshop e o Campeonato possuem um papel fundamental na criação da Escola de Drones. “As lições aprendidas nesse evento serão importantes para estruturar a futura Escola de Drones do Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo, que será criada ainda em 2026. Inicialmente, o curso será para militares da Marinha, podendo, no futuro, ser expandido para outras Forças”, antecipou.
O Almirante destacou, ainda, que o curso irá abranger apenas drones dos tipos 0 e 1, ou seja, drones que podem ser pilotados por quem não é piloto profissional.
O pesquisador do Comando do Desenvolvimento Doutrinário do Corpo de Fuzileiros Navais (CTDDCFN) e tutor das linhas de pesquisa de ações aeronavais, meios aéreos e antiaéreos relacionados às operações de Fuzileiros Navais, Capitão de Corveta (FN) Diego Sabá, explicou que o evento funcionou como um grande laboratório de experimentação doutrinária.
“Tudo o que observarmos aqui — as táticas que funcionaram, as adaptações que as equipes fizeram nos equipamentos, as formas de emprego criativas — será analisado e transformado em Lições Aprendidas.
O nosso objetivo é que esse conhecimento prático retroalimente nossos currículos e manuais, acelerando a criação de táticas, técnicas e procedimentos que serão implementados no adestramento regular das nossas subunidades de combate”, afirmou.
O 1º Workshop sobre o Emprego de Drones do CFN contou com palestrantes nacionais e internacionais e um público de mais de 400 pessoas. Ele teve por finalidade fomentar a mentalidade de inovação dentro da Força, aprimorar a compreensão e debater as questões mais atuais e relevantes relacionadas ao emprego de drones militares e comerciais adaptados ao uso militar, em âmbito nacional e internacional, além de promover a troca de conhecimentos e experiências entre especialistas de diferentes países e instituições.
“Nós entendemos que o universo dos drones não é uma tecnologia exclusivamente militar, mas um ecossistema dual, onde o mundo civil e o militar coexistem e evoluem juntos. Este evento serve para despertar no nosso Fuzileiro Naval essa cultura tecnológica, identificar talentos internos e demonstrar que a capacidade operacional depende dessa integração entre a técnica de pilotagem e a criatividade tática”, frisou o Oficial do CTDDCFN.
O Workshop foi dividido em três painéis, uma demonstração de usos e exposição de diversos modelos. O primeiro painel foi sobre o emprego de drones nos conflitos contemporâneos e contou com a participação do Chefe da Seção de Desenvolvimento Tecnológico e Planejamento do Centro Global de Serviço das Nações Unidas, Capitão de Mar e Guerra (FN) Samuel Leal; do pesquisador do CTDDCFN, Capitão de Corveta (FN) Diego Sabá; e do Chefe de Equipe de Apoio Especializado do Groupement Commando Amphibie da Marinha da França, Sargento Wilfried Pottier, piloto e construtor de drone SL450 e instrutor de drone Black Hornet version 4.2 Indoor.
O segundo painel foi sobre o emprego de drones nas Forças Armadas e contou com a participação do Formulador Doutrinário para a Aviação do Exército e Sistema de Aeronaves Remotamente Pilotadas do Centro de Doutrina do Exército, Coronel Paulo Ricardo Pinto da Silva; do Subcomandante do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil, Coronel (Aviador) André Moura; do Imediato do 1º Esquadrão de Aeronaves Remotamente Pilotadas da MB, Capitão de Fragata Daniel Chaves; e do Imediato do Batalhão de Combate Aéreo (BtlCmbAe), Capitão de Fragata (FN) Michel Saidel.
Por fim, o terceiro painel, que teve como temática o emprego de drones em ambiente urbano, contou com a participação da Agente da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ), Brunna Lopes; do Chefe da Seção de Apoio do Grupo de Segurança e Defesa da Base Aérea de Brasília, Capitão de Infantaria Rodrigo Sande; do Chefe do Núcleo de Aeronaves Remotamente Pilotadas do Grupamento Aeromóvel da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) e piloto policial de helicóptero, Capitão (PM) Bruno Mazarino; e do Diretor-Comercial da fabricante brasileira de drones Modirum/Gespi, Bruno Bondioli.
A Oficial da Polícia Civil Brunna Lopes atua na Delegacia de Homicídios da Capital e é um destaque feminino na operação de drones.
“Atuar tanto no treinamento quanto na prática das operações com drones é muito importante. Fui responsável pelo primeiro curso de operações de aeronaves não tripuladas na Polícia Civil e só conheço mais uma outra mulher atuando nessa área, na parte teórica e em legislação. Hoje, vejo que os drones revolucionaram tanto as nossas operações, quanto as investigações e as ações de inteligência. Poder representar a Polícia Civil e demonstrar um pouco da nossa atividade profissional nesse Workshop foi muito importante”, afirmou.
Já o 1º Campeonato de Drones Militares foi composto das categorias “Manobra”, “Ataque Simulado”, “Reconhecimento” e “Inovação”. Cada uma das modalidades teve desafios específicos projetados para testar as habilidades, a precisão e a criatividade das equipes participantes, estimulando o desenvolvimento técnico, a excelência operacional no emprego de drones, a integração entre os competidores e o aperfeiçoamento de técnicas aplicáveis às operações reais. Os drones utilizados foram da empresa Modirum/Gespi, do CIASC, do BtlCmbAe e do Batalhão de Operações Especiais de Fuzileiros Navais (Batalhão Tonelero).
Segundo o Capitão de Corveta (FN) Diego Sabá, durante o Campeonato foram testadas e avaliadas diversas capacidades. “Estamos avaliando um conjunto de valências. Do ponto de vista técnico, testamos a manobrabilidade, a precisão de pilotagem e a capacidade de operar o sistema em seus limites. Mas, fundamentalmente, estamos testando a capacidade cognitiva e de adaptação do operador. Queremos entender como ele utiliza a autonomia do equipamento e os sensores embarcados para resolver problemas táticos. É um teste de proficiência técnica, mas também de criatividade”, explicou.
Conforme explica o Soldado (FN) Gabriel de Ávila, do CIASC, que venceu na modalidade “Manobra”, é um privilégio estar na primeira equipe vencedora. “Desde o início, no meu batalhão de Fuzileiros Navais, eu tenho defendido o uso do drone AKA-52, principalmente para as nossas Forças. É uma tecnologia incrível e precisa estar nas fileiras. Eu tive a oportunidade de dar uma instrução sobre o uso dos drones na guerra moderna, nesse ano. Isso só me motivou e quero estar cada vez ao lado dessa tecnologia”, celebrou.
Já para o Soldado (FN) Ryan Pereira Santos, do BtlCmbAe, que venceu na modalidade “Reconhecimento”, o Campeonato é uma oportunidade para aprimorar as capacidades de operação com drones.
“É um campeonato muito importante para o nosso Batalhão, porque é uma área em que temos nos especializado cada vez mais. Então, participar e vencer é de grande valia para termos mais experiência”, afirmou.
Além disso da competição e das palestras, houve exposição de drones de empresas parceiras e de universidades. As empresas Condor, Modirum/Gespi e Macjee expuseram suas novas tecnologias do setor de defesa, com enfoque nas aeronaves remotamente pilotadas e sistemas de reconhecimento.
Conforme explicou o Capitão de Corveta (FN) Diego Sabá, o uso de drones aprimora as operações dos Fuzileiros Navais em missões reais. “O drone atua hoje como um multiplicador de força. Na vertente de reconhecimento, ele garante a consciência situacional, permitindo que o Comandante veja ‘o outro lado da colina’ sem expor seus homens. Na logística, ele oferece meios de ressuprimento rápido em áreas de risco. E, observando os conflitos recentes, como no leste europeu, vemos sua capacidade de atuar diretamente no combate, entregando efeitos cinéticos com precisão. Ele aumenta a letalidade da tropa ao mesmo tempo em que aumenta a proteção do nosso combatente.”
Ele também ressaltou a importância do uso de drones em apoio à Defesa Civil. “Essa é a grande vantagem desta tecnologia: ela é inerentemente dual. A mesma câmera térmica que utilizamos para detectar uma ameaça camuflada no terreno é a ferramenta perfeita para localizar uma vítima perdida na mata ou soterrada após um deslizamento, inclusive à noite. O Corpo de Fuzileiros Navais, que tem por vocação ser uma Força de pronto emprego de caráter expedicionário, visualiza o drone como uma ferramenta essencial também para a ajuda humanitária, permitindo chegar aonde as equipes de resgate tradicionais teriam dificuldade ou levariam muito tempo”, avaliou.

