
O Benfica eliminou o histórico Atlético, popular coletividade lisboeta, a militar na Liga 3, mas o facto em si não foi a principal notícia. O técnico José Mourinho não gostou do que viu, especialmente na primeira parte do encontro, que registou um empate a zero bolas, e teceu duras críticas à equipa. “O Atlético fez um trabalho extraordinário. Vi o jogo deles em Mafra e percebi que havia organização e tinha jogadores de qualidade, mas a nossa primeira parte foi pobre e naquilo que mais me dói: na atitude. Houve muito jogador que não foi sério e não encarou o jogo como devia encarar. Fiz quatro substituições ao intervalo, mas gostava de ter feito nove. A vocês não vos digo, mas disse no balneário quem eram os dois que não trocava”, referiu em conferência de Imprensa. Os elementos que não trocaria, percebeu-se bem, só poderiam mesmo ser o capitão Nicolas Otamendi e o jovem extremo Rodrigo Rego, que fez a sua estreia oficial no onze do Benfica.
É um facto que o primeiro período da partida foi sofrível – talvez do pior que o Benfica já fez -, o que originou a revolta de José Mourinho. Exagero? Naturalmente que aquilo que deveria ficar entre quatro paredes, no segredo do balneário, acabou por ser exposto com todas as letras. Mourinho… é Mourinho. O Special One goza de um natural estatuto face ao impressionante currículo que ainda fazem do setubalense um dos melhores técnicos a nível mundial. E quando fala é como se tratasse de um ser maior do futebol, pois diz o que muito bem lhe apetece, pouco se importando com os comentários. As mesmas palavras, na boca de outros treinadores, por certo que seriam assunto para algumas semanas.
“O que não resultou na primeira parte não foi o sistema, foram os jogadores. Para tirar alguns dos jogadores que queria tirar, tive de mudar de sistema para a segunda. Alguns deles não estavam cá e já lhes disse: não me venham bater à porta perguntar porque não jogam”, explicou José Mourinho, que, mesmo assim, adiantou não se furtar a responsabilidades. “Na segunda parte melhorámos muito, o Atlético não conseguiu sair como saía antes e era uma questão de tempo para fazermos o golo. Se o tivéssemos feito mais cedo, o resultado seria outro. A atitude já me agradou, mas também sou responsável”, salientou o treinador do emblema da Luz.

Um sistema diferente com três centrais
Para este encontro da Taça de Portugal com o Atlético, José Mourinho ensaiou um novo sistema tático defensivo com três centrais numa linha a cinco. Esta alteração ficou a dever-se ao facto de o Benfica não dispor, de momento, de elementos que ataquem a profundidade pelos extremos. Com a lesão do belga Dodi Lukebakio, operado a uma fratura do tornozelo, prevendo-se que regresse aos treinos em fevereiro do próximo ano, os encarnados atuaram com os seus laterais mais subidos, mas esta ação em nada resultou. O Atlético, mesmo com muito menos posse de bola, dispôs das melhores oportunidades de golo através de jogadas rápidas de contra-ataque, que deixaram Mourinho em verdadeiro estado de choque. Refira-se, a propósito, que Benfica e Atlético já não se defrontavam há 43 anos e que o jogo foi disputado no estádio do Belenenses, pois o da Tapadinha não reúne as infraestruturas necessárias para uma partida de grande dimensão, nomeadamente a falta de iluminação artificial.

Já na segunda parte as coisas mudaram significativamente, mas José Mourinho entrou com quatro novos jogadores – deixou um quinto para mais tarde no intuito de precaver um qualquer azar -, retirando o defesa português Tomás Araújo, o médio argentino Enzo Barranechea, bem como dois dos avançados, o jovem português João Rego e o croata Franjo Ivanovic. De regresso ao sistema original, com quatro defesas em linha, as opções recaíram no defesa sueco Samuel Dahl, no médio colombiano Richard Ríos e no luxemburguês Leandro Barreiro, bem como o avançado norueguês Andreas Schelderupe. As substituições produziram o efeito desejado e os golos surgiram naturalmente, primeiro por Richard Ríos, aos 73 minutos, depois por Vangelis Pavlidis, aos 77 minutos, de grande penalidade, com Otamendi ainda a desperdiçar novo penálti. Tudo bem quando acaba bem, menos para Mourinho que, como se viu, não poupou nas críticas a nove dos jogadores que iniciaram a partida.
É jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, publicando textos escritos em português de Portugal.