
De um jogo entre candidatos ao título espera-se sempre emoção e golos, mas não houve uma coisa nem outra. O FC Porto vinha de uma série de sete triunfos consecutivos no campeonato e perdeu a oportunidade de ficar com outros tantos pontos de vantagem do Benfica, numa ronda em que o Sporting também empatou a uma bola no seu próprio reduto com os minhotos de Braga. Assim, os dragões continuam com mais três pontos à maior sobre a formação de Alvalade e quatro sobre o emblema da Luz, numa altura em que a Liga Portugal só regressa dentro de três semanas devido aos compromissos das várias seleções nacionais empenhadas nos confrontos de apuramento para o Mundial de 2026.
Neste longo intervalo, no caso das formações portuguesas, há ainda lugar para os jogos da Taça de Portugal, bem como as partidas referentes às competições europeias. FC Porto e Benfica deslocam-se a Inglaterra para defrontar o Nottingham Forest e o Newcastle, respetivamente para a Liga Europa e para a Liga dos Campeões.
Da partida do Estádio do Dragão, é bom ver que José Mourinho saiu feliz da vida, ainda que não radiante. O empate serviu-lhe à mil maravilhas, como o próprio admitiu, pois uma derrota colocaria a sua equipa em situação complicada no campeonato. Já Francesco Farioli, 100% vitorioso até aqui, lá tentou esconder a perda de dois pontos, revelando-se resignado e até felicitando o adversário e o próprio Mourinho pela forma como o Benfica soube travar o maior e natural ímpeto atacante dos azuis e brancos. Com menos um dia de descanso do que os encarnados, mas vindo de um resultado positivo no triunfo sobre o Estrela Vermelha para a Liga Europa, o jovem treinador italiano, de 36 anos, voltou a utilizar o onze habitual, depois de em Belgrado ter poupado, de início, oitos dos seus jogadores.
É um facto que o FC Porto entrou a pressionar, teve mais posse de bola, mas faltaram oportunidades de golo. O Benfica defendeu como pôde e bem, não se coibindo de dar mais terreno ao seu opositor. José Mourinho voltou a confiar exatamente na mesma equipa que havia sido derrotada em Stamford Bridge pelo Chelsea, dando assim um voto de confiança aos seus jogadores, tanto mais que o tempo de trabalho ainda é muito curto a alterações de vulto poderiam ser prejudiciais.

Só à passagem do 34º minuto é que o FC Porto chegou com algum perigo à baliza adversária, mas o internacional brasileiro Pepê não conseguiu dar a melhor sequência à jogada, em situação favorável, fazendo a bola sair muito por cima, após cruzamento do avançado Samu. Um minuto antes, o ucraniano Sudakov beneficiou de um livre direto à entrada da área dos dragões, mas o guardião Diogo Costa não teve grandes dificuldades para defender o remate, melhor dizendo, o único remate enquadrado que o Benfica fez à baliza dos dragões durante toda a partida. A ideia era mesmo defender e José Mourinho nem sequer ousou dar uma outra profundidade ao ataque para não correr riscos. A terminar a primeira parte, o espanhol Gabri Veiga rematou perigosamente para a baliza encarnada, mas o guardião Trubin arrancou uma excelente defesa para canto.
Entrada de William Gomes, desta vez, não foi solução
Quando Farioli, aos 61 minutos, fez uma dupla substituição, optando pelas entradas do brasileiro William Gomes e do médio dominicano Pablo Rosario chegou a pensar-se que alguma coisa podia mudar. O extremo que veio do São Paulo ainda tentou armar um remate bem ao seu jeito, em arco, com o pé esquerdo, mas a bola saiu ao lado e, praticamente, foi tudo que produziu.
Desta vez não foi a arma secreta que já garantiu pontos importantes ao FC Porto. Nem ele nem mais ninguém, pois o Benfica manteve-se sempre confortável naquele estilo de fazer da defesa o setor mais forte, depois reforçada com a entrada do médio luxemburguês Leandro Ribeiro em detrimento do esgotado do extremo belga Lukebakio. Até ao final do encontro houve mais duas jogadas de perigo, uma para cada lado, a primeira para o conjunto da Luz com um alívio de cabeça do polaco Kiwior que fez a bola bater na barra da sua baliza, para depois o reentrado Rodrigo Mora, já em período de descontos, acertar na trave do conjunto das águias, após excelente trabalho do sueco Deniz Gul.

Foi tudo o que se viu de um encontro que prometia mais, mas que se ficou pela mediania muito por culpa da estratégia das equipas: a do FC Porto, que não teve arte e engenho para fazer mais e melhor, e outra, a do Benfica, que foi ao Estádio do Dragão com a ideia do empate. Quem ganhou? Naturalmente que José Mourinho ficou mais satisfeito neste regresso a uma casa onde foi muito feliz – desta ouviu assobios -, mas o certo é que ficou tudo na mesma, com vantagem pontual para os portistas. O Sporting mantém o segundo posto na Liga Portugal, mas o empate a uma bola diante do Braga é algo enganador, tanto mais que os minhotos tiveram algumas oportunidades flagrantes para saírem de Alvalade com os três pontos.
Francesco Farioli (treinador do FC Porto): “Pessoalmente, estou muito feliz. Acho que foi uma grande batalha tática, duas equipas que jogaram com muita consciência e atenção aos pequenos detalhes. Foi um jogo em que mostrámos muita maturidade, tentámos tudo o que era possível para ganhar. Não arriscámos tudo, porque neste tipo de jogo, quando se defronta uma equipa que faz um jogo muito inteligente, uma situação pode pôr em causa o jogo inteiro. Então penso que fizemos um jogo muito maduro. Acho que é um bom resultado. Merecíamos algo mais, mas neste tipo de jogos podes perder. Uma bola parada, o futebol é estranho, a bola pode entrar num desvio. Podemos estar felizes, mas tentámos tudo para ganhar.”
José Mourinho (treinador do Benfica): “A nossa situação era complicada. Não podíamos sair a sete pontos, queríamos sair a um, mas, como eu dizia agora aos jogadores, nem eu, no banco, me senti em condições de arriscar para ganhar. E eles próprios, em campo, também sentiram que o jogo estava controlado e bem controlado e que este jogo não se podia perder. Eles podiam perder, até do ponto de vista emocional, vinham de uma série fantástica de bons resultados. Nós, numa série complicada – numa situação não fácil para nós –, era fundamental não perder. O outro rival, o Sporting, também empatou, o que significa que, neste fim de semana, em que, à partida, éramos aqueles que estaríamos numa situação mais difícil, mas não perdemos pontos, nem para o FC Porto, nem para o Sporting, e estamos cá, estamos cá vivos.”
