
O mês de agosto marca, em todo o Brasil, a campanha Agosto Lilás, voltada à conscientização e ao combate à violência contra a mulher.
A mobilização tem como principal objetivo divulgar a Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006, e reforçar a importância dos canais de denúncia para interromper o ciclo de agressões.
Em São José dos Campos, o Ambulatório da Mulher, ligado ao Hospital Municipal Dr José de Carvalho Florence, unidade da Prefeitura de São José dos Campos gerenciada pela SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), é referência no atendimento a vítimas de violência sexual.
No primeiro semestre de 2025, 60 mulheres receberam atendimento após abuso sexual. Os dados do município mostram que 10% das vítimas relataram ter sido mantidas em cárcere privado e todas sofreram violência psicológica, como ameaças, xingamentos e desvalorização do corpo. Em média, 75% dos abusos ocorreram após encontros marcados, com agressores conhecidos ou não, enquanto o restante foi cometido por desconhecidos.
Segundo a psicóloga do Ambulatório, Stephanie J. S. Melo, a continuidade do atendimento é fundamental. “O nosso trabalho garante sigilo absoluto e apoio especializado, para que a mulher se sinta acolhida e possa enfrentar o trauma com cuidado integral”, afirma.
Fluxo do atendimento
O atendimento em São José dos Campos é estruturado para evitar a revitimização e assegurar acolhimento humanizado. A vítima é inicialmente recebida no Pronto-Socorro Ginecológico, onde passa por triagem.
Em seguida, aguarda na Sala Lilás enquanto uma equipe multidisciplinar — formada por psicóloga, assistente social, equipe médica e núcleo de vigilância epidemiológica — é acionada.
Quando todos os profissionais estão presentes, ocorre uma consulta única, garantindo que a vítima não precise repetir diversas vezes seu relato. Durante o atendimento, são apresentados os direitos da paciente, a oferta de exames, medicação preventiva contra infecções sexualmente transmissíveis e orientações sobre o acompanhamento no Ambulatório da Mulher.
O apoio psicológico também é oferecido por até seis meses, podendo se prolongar em casos que necessitem de atendimento especializado em saúde mental, como nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
Paralelamente, as vítimas são orientadas a registrar boletim de ocorrência na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), único local da cidade que formaliza casos de violência sexual e solicita a perícia no Instituto Médico Legal (IML).
Diante desse cenário, o Agosto Lilás reforça que combater a violência contra a mulher não é responsabilidade apenas da vítima, mas um compromisso coletivo.
Violência sexual no Brasil
O Brasil atingiu, em 2024, o maior número de estupros já registrados: 87.545 casos, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública — o equivalente a uma vítima a cada seis minutos.
88% das vítimas são mulheres
55% são negras ou pardas
76,8% dos casos envolvem vulneráveis (menores de 14 anos ou incapazes de consentir)
65% das agressões ocorrem dentro de casa
Apenas 7% a 8% dos casos chegam à polícia, revelando grave subnotificação
Canais de denúncia e apoio
Para romper o silêncio e garantir que os casos cheguem às autoridades, é fundamental que vítimas, familiares e testemunhas utilizem os canais oficiais:
Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher
Ligue 190 – Emergências policiais
Delegacia de Defesa da Mulher – Presencial ou via delegacia online (em alguns estados)
Aplicativos e sites oficiais de denúncia