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Três dias em Madrid debaixo de calor escaldante num cenário de encantar

A capital espanhola é uma cidade fascinante, moderna, mas com uma história milenar onde a realeza deixou marcas profundas e continua a ser respeitada

Situada no centro da Plaza de la Independencia, a Puerta de Alcalá é uma das cinco portas reais que davam acesso à cidade de Madrid Foto Vaz Mendes. (Foto: Vaz Mendes)

Desta vez fui de férias a Madrid, mas pouco descanso tive. Inicio assim um texto na primeira pessoa para retratar com fidelidade três dias de visita à segunda maior cidade da União Europeia, depois de Berlim, na Alemanha. O dia-a-dia dos madrilenos é impressionante, eles “ultrapassam” os menos apressados nas escadas rolantes do Metro numa correria infernal, mesmo desconcertante. Aquele breve período de descanso ao início da tarde – a sesta – comum em Espanha e em muitos países latino-americanos quase que nem se dá por ele. O rebuliço é de tal ordem que a cidade parece até nem dormir.

Já conhecia Madrid, mas nunca tive tempo para admirar a sua beleza. Como jornalista fui um par de vezes com a equipa de futebol do FC Porto ao Estádio Santiago Bernabéu aquando de confrontos europeus com o Real Madrid, assim como ao Estádio Vicente Calderón, antiga casa do Atlético de Madrid. Então, não havia tempo para nada: chegada ao Aeroporto Adolfo Suarez – Barajas, ida para o hotel, treino aberto do FC Porto, regresso ao hotel… e toca a escrever várias páginas para o jornal. No dia a seguir ligeiro passeio para descomprimir um pouco, almoço, escrever de novo e viagem para o estádio. Lá vem o jogo, termina a partida, envio do relato e da reportagem para Portugal, e regresso ao aeroporto para a viagem de volta. Tudo sempre a correr, do mesmo modo que os madrilenos em trabalho.

Mas agora não foi assim, andei por lá na maior das calmas, ou melhor, com tempo para desfrutar da paisagem e para degustar uns bons petiscos, como mais adiante se verá. Fiquemo-nos, então, ainda pelo Metro. A cidade possui uma rede metropolitana muito extensa, com várias linhas e mais de três centenas de estações, sendo uma das mais completas da Europa. Mais de 75% da população madrilena vive a menos de 600 metros de uma estação de Metro. Para lá de ser uma forma de viajar bastante económica, a maior vantagem reside na possibilidade de se visitar todos os cantos de Madrid sem entrar na confusão do trânsito citadino, por vezes caótico. E depois há o ónibus, com pistas próprias, gratuito nas principais linhas para que se possa visitar os pontos turísticos de maior interesse, tanto mais que Madrid é fértil em museus e monumentos de rara beleza.

A escultura na Praça de Colón em Madrid, frequentemente chamada de cara branca, é uma obra Julia de Jaume Plensa. A escultura, feita de mármore branco, tem 12 metros de altura. (Foto: Vaz Mendes)

Instalei-me num hotel de cinco estrelas – o Puerta América, passe a publicidade -, uma luxuosa unidade localizada perto do centro de Madrid com 12 andares. Fiquei no 10º piso, de onde avistava um enorme complexo de ténis e parte da cidade. Preferi apenas as instalações para o descanso, optando pelas refeições nos restaurantes da cidade, exceto o pequeno-almoço, obviamente generoso, desde o mediterrânico ao americano com um buffet muito completo. Servi-me ainda da piscina exterior para os finais de tarde, momentos bem reconfortantes depois de um dia agitado que não acabava ali, pois até à noite ainda havia muito para ver.

Plaza de Epaña no centro de todas as decisões
A escassos metros do hotel onde fiquei alojado há uma estação de metro de nome Cartagena, na Avenida América, de onde partia rumo à famosa Plaza de España para programar o dia. Tinha comigo algumas informações do que pretendia ver e fazer, mas não cumpri à risca o plano. Iniciada a viagem, sabia que teria de trocar de linha em Gregorio Marañon, nome que perpetua a memória de um médico, cientista, historiador, escritor e filósofo espanhol nascido em maio de 1887. Com as carruagens sempre lotadas, o impressionante é mesmo observar a quantidade daquelas enormes máquinas elétricas subterrâneas que surgem nas estações a cada quatro minutos. Num ápice chega-se ao destino programado, no caso a Plaza de España, que inclui um dos principais edifícios, o Parque Maria Luisa, que em 1963 foi um dos locais de filmagem do famoso filme Lawrence da Arábia, dirigido por David Lean, no qual contracenavam atores como Jack Hawkins, Antony Quinn e Omar Sharif.

Tour panorâmico sem paragens
Uma das melhores formas de conhecer alguns dos principais pontos turísticos de Madrid – cerca de 30 – é fazer um tour panorâmico com a duração de 90 minutos. Em tempos havia a possibilidade de o passageiro poder sair nas várias paragens, fazer a visita a um museu, por exemplo, e pegar novo ónibus com o mesmo bilhete. Agora não. A explicação para a medida adotada na capital espanhola, o que não acontece noutras cidades, foi a de que essa proibição surgiu pelo facto de o tráfego automóvel, já de si meio caótico, não sofrer demasiadas perturbações.

O certo é que a rota Madrid City Tour, feita em ónibus de dois pisos – o segundo com teto aberto – permite uma extraordinária vista panorâmica, contando ainda com as preciosas explicações de um guia turístico em espanhol e inglês. Curiosamente, nos lugares ao meu lado viajavam duas jovens brasileiras de São Paulo, a quem tive oportunidade de mostrar alguns dos textos que escrevi para o PortalR3.

Aliás, logo que o meu caro amigo Cláudio Antunes baixe esta publicação, vou fazer chegar à Vera e à Maria, conforme prometido, o relato da viagem. Com principais pontos turísticos, o tour oferece a possibilidade de se visualizar monumentos lindíssimos como a Puerta de Alcalá, a Puerta del Sol, o Museu do Prado e o Estádio Santiago Bernabéu, entre outros pontos de interesse turístico de eleição. O imponente recinto do Real Madrid impressiona pela sua arquitetura e dimensão, com capacidade para 84 mil espectadores. O estádio sofreu alterações de vulto, mas não é completamente fechado, como à primeira vista parece, pois inclui um teto retrátil. O valor das obras atingiu um custo elevadíssimo, ascendendo aos dois mil milhões de euros, quantia dividida por três empréstimos e um financiamento de uma empresa, que ficará com 30% das receitas nos próximos 20 anos.

Cinco portas reais repletas de história
Uma das atrações de Madrid são as chamadas portas de entrada para a cidade, cinco no total. A Porta de Alcalá, uma das sete maravilhas da capital espanhola, é a mais conhecida e foi construída em 1778. As outras quatro – Porta de Toledo, Porta de São Vicente, Porta de Ferro e Porta Real – são monumentos fascinantes, cada um com a sua história, que a realeza mandou edificar e nos dias de hoje preservados com todo o cuidado.

O Palácio Real destina-se apenas a cerimónias e atos oficiais, pois os reis de Espanha moram no Palácio da Zarzuela. Trata-se do maior palácio da Europa Ocidental e está aberto ao público, sendo visitado anualmente por cerca de dois milhões de pessoas. Um “simples” detalhe, informação dada pelo guia turístico, o monumental edifício tem 3.418 quartos. Como tal, é à grande e à espanhola, que nestas coisas a realeza não brinca em serviço. No seu interior encontram-se obras de pintores e escultores célebres, mas também a maior coleção do mundo de Stradivarius, instrumentos de corda, principalmente violinos.

O encontro de Ronaldo com Georgina
Cristiano Ronaldo e Georgina Rodriguéz conheceram-se em Madrid quando o (ainda) desportista mais bem pago do Mundo, de 40 anos, representou o clube merengue. Tudo aconteceu numa avenida onde as principais e mais luxuosas marcas de vestuário estão representadas. O ex-futebolista do Real Madrid, emblema que representou durante nove temporadas, entrou na Gucci, onde a companheira do craque português trabalhava e a paixão nasceu ali mesmo, aliás como argentina/espanhola relatou no documentário “Soy Georgina” da Netflix.

“Foi numa quinta-feira, no verão. Eu trabalhava na Gucci. Ia sair às cinco, mas pediram-me para ficar mais meia hora para atender uma cliente. Estava a sair quando apareceu um homem lindíssimo, de quase dois metros, acompanhado por um miúdo e um grupo de amigos. Comecei a sentir cócegas no estômago e pensei ‘que está a acontecer?’ Não queria olhar para ele, estava com vergonha”, recordou então Georgina, mãe biológica de dois dos cinco filhos do atleta.

Cristiano Ronaldo passou a ser cliente assíduo da loja e poucos dias depois a proximidade resultou em namoro, depois de um convite. “Ele tinha muitos jogos, eu tive aquele problema com o meu pai, estive ausente, triste. Um dia encontrámo-nos noutro evento, ele estava com os amigos e com o irmão e disse-me: ‘Gio, queres vir jantar comigo?’ Estava muito entusiasmada. A caminho do restaurante as nossas mãos tocaram-se e senti como se aquelas mãos estivessem comigo há muito tempo. Eram umas mãos familiares, que se encaixavam na perfeição. Fomos jantar e quando voltei a casa o meu coração… pum, pum.” O resto da história não é difícil de adivinhar. Madrid tem os seus encantos.

Refeições para todos os gostos e preços
A vida em Madrid é cara, mas nada que se compare, por exemplo, com Paris ou Londres. Digo-o por experiência própria. Naturalmente que se a opção recair por um restaurante mais sofisticado – e há muitos – o preço por pessoa poderá atingir os 100 euros (+ ou – R$ 647,00), mas por bem menos de metade dessa importância já se come bastante bem. Aliás, a capital espanhola oferece uma variedade e quantidade impressionante de espaços onde se podem degustar diversos pratos típicos, alguns incluídos nos menus económicos. A não perder é o polvo cozido, os ovos rotos (presunto ibérico, batata frita e ovos) ou as tradicionais tapas (pequenas porções de comida com presunto e queijo ou frutos do mar).

Mas também se pode optar por uma boa paella, um prato tipicamente espanhol, ainda que originário de Valência, a terceira cidade mais populosa do país dos “nuestros hermanos”. Por recomendação de um amigo lá fui à paella de marisco, que combina bem com arroz, carne e legumes, temperada com açafrão. Em Portugal este prato é vulgarmente conhecido por arroz à valenciana, ainda que “adulterado”, pois a internacionalização deste manjar estendeu-se a muitos países. Dada a pouca relação com a paella original, um grupo de cozinheiros de Valência, no qual se incluem restaurantes e associações, sentiu a necessidade de oficializar a receita para evitar confusões. Cá por mim comi a original, acompanhada de uma caneca bem fresca de cerveja e fiquei satisfeito.

E assim termino a “viagem”, ainda que fiquem algumas coisas por dizer, mas três dias em Madrid não dão para muito mais. Fica o essencial de uma cidade deslumbrante, moderna e muito quente para esta altura da época.

Madrid, a Capital
Em Madrid, a cidade que pulsa,
Um coração de pedra e luz,
Onde a história se espalha em cada esquina,
E a arte se manifesta em cada cruz.

O sol beija a Gran Vía, vibrante,
O Retiro abraça a natureza calma,
E o Prado revela a alma espanhola,
Em cada tela, uma eterna valsa.

𝑝𝘶𝑏𝘭𝑖𝘤𝑖𝘥𝑎𝘥𝑒  

Os tapas e o vinho, um ritual,
A música flamenca, um lamento,
Madrid, a cidade que encanta,
Um eterno e apaixonado momento.

Rafael Alberti, poeta espanhol (1902-1999)

Vaz Mendes
É jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, publicando textos escritos em português de Portugal.

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