Diogo Jota viajava juntamente com o irmão num Lamborghini alugado quando o pneu estourou durante uma ultrapassagem, o que causou a perda do controle do veículo e, logo após o acidente, consumou-se o drama. Um cenário verdadeiramente dantesco, pois a potente máquina acabou por se incendiar, sem tempo para que os dois únicos ocupantes saíssem do seu interior, ceifando a vida do jogador do Liverpool, de 28 anos, bem como do seu irmão André Silva, de 25 anos, futebolista do Penafiel, clube que milita na Segunda Liga de Portugal. Recentemente sujeito a uma pequena cirurgia a um pulmão, Diogo foi desaconselhado a não viajar para Inglaterra de avião, optando por alugar um carro que os transportasse até Santander. A partir daí a viagem para o Reino Unido seria feita via marítima num ferry boat, onde se juntaria à sua família. O jogador estava casado há 11 dias, cerimónia realizada numa igreja da cidade do Porto, um sonho desejado e cumprido depois de muitos anos de comunhão com Rute Cardoso, mãe dos seus três filhos.
Cruel e chocante. A cidade de Gondomar, a meia dúzia de quilómetros do Porto, onde os dois irmãos deram os primeiros pontapés na bola, chorou a morte de dois dos seus entes queridos. Largas centenas de pessoas passaram pela Capela da Ressurreição para prestar a última homenagem aos dois jovens da terra. O Mundo – não só do futebol – está incrédulo e não percebe como a horrível tragédia aconteceu. Claro que o acidente está a ser devidamente investigado pelas autoridades em Espanha, mas tudo o que se possa dizer é prematuro, ainda que, numa primeira análise, o excesso de velocidade na ultrapassagem, associado ao piso irregular da pista na zona do acidente, possa estar associado ao drama.
Presidente da República e Primeiro Ministro no velório
Durante o início do velório foram muitas as personalidades das mais variadas esferas da vida social, política e desportiva que prestaram homenagem aos dois irmãos tragicamente desaparecidos. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, deslocou-se propositadamente a Gondomar, antes de rumar a Cabo Verde para celebrar os 50 anos da independência daquela antiga colónia portuguesa. Também o Primeiro-Ministro Luís Montenegro marcou presença, sem que, contudo, tenha proferido qualquer declaração aos muitos jornalistas presentes na cerimónia fúnebre, tal como Marcelo. O momento foi de recolhimento e, acima de tudo, de reconforto para a família dos dois malogrados jovens.
Alguns elementos da equipa do Liverpool, uma comitiva que integrava o treinador neerlandês Arne Solt e o carismático capitão Virgil van Dijk chegaram ao início da noite. Cabisbaixos, foram muito aplaudidos pelo numeroso público que não largava pé do local, prestando a derradeira homenagem ao seu antigo companheiro. Também Rúben Neves e João Cancelo, os dois internacionais portugueses agora no Al Hilal, da Arábia Saudita, clube eliminado pelo Fluminense, do Brasil, no Mundial de Clubes, viajaram num jato particular para Portugal, onde marcaram presença no funeral dos dois irmãos.
E muitas mais caras conhecidas passaram pela Capela da Ressurreição, pessoas de todos os quadrantes, ainda que maioritariamente ligadas, direta ou indiretamente, ao futebol. Mas foi o povo anónimo que acorreu em grande número a Gondomar, de onde eram naturais os dois jogadores, que se associou a um momento de profunda dor e consternação. Foram longas as filas que se formaram e centenas as pessoas que quiseram prestar a derradeira homenagem a dois jovens humildes, aliás como eram vistos por todos. Diogo Jota, o talentoso futebolista que chegou ao estrelato no Liverpool, depois da formação em Gondomar, com passagens pelo Penafiel, Paços de Ferreira, FC Porto e Wolverhampton, era a antítese do ídolo do mundo da bola. Simples, sempre dialogante, de trato fácil, o craque dos “reds” aproveitava todos os momentos para estar, sempre que possível, com as gentes de Gondomar. E o povo, mesmo aquele que de futebol pouco percebe, acorreu à triste e emocionada despedida dos dois irmãos.
Cidade de Liverpool em lágrimas

São muitas as imagens que os vários canais televisivos têm passado de Anfield Road, o mítico estádio do Liverpool. “Devastados”, assim se manifestam os colegas, treinadores e adeptos do clube inglês. No exterior do recinto, as homenagens sucedem-se àquele que durante cinco épocas envergou a camisola do atual campeão britânico. O local de homenagem transformou-se num autêntico “santuário”, onde foram depositados cachecóis, flores, camisolas e todo o tipo de objetos em homenagem a um dos grandes ídolos da torcida.
Muito emocionado, o antigo capitão do Liverpool Jordan Henderson, agora jogador do Ajax, que partilhou o balneário com Jota na era do técnico Jurgen Klopp, disse mesmo não querer acreditar no que aconteceu, colocando um ramo de flores no local. Nas redes sociais a partilha de memórias é impressionante, todos querem deixar uma mensagem de pesar pela tragédia que se abateu sobre uma família de Gondomar. Mas é um país inteiro que sofre com o drama. É o Mundo que vive um momento cruel com a perda de dois jovens exemplares. Porque o futebol é assim, impactante e feito de paixões, ainda que por vezes se transforme num “produto” irracional.
Esta também é a hora de pensar que o Desporto é Vida. Mesmo com a Morte bem presente.
É jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, publicando textos escritos em português de Portugal.[/box]