Parceria entre Marinha e IPEN forma operadores de reator de pesquisa licenciados pela CNEN

O treinamento de operadores faz parte do acordo de cooperação entre a Comissão Nacional de Energia Nuclear-CNEN, por meio do IPEN, e a Marinha do Brasil, através do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo.

A parceria tem possibilitado a formação de operadores seniores de reator, de operadores de reator e supervisores de proteção radiológica para o Reator IEA-R1. (Foto: 1SG-AM Walney)

A parceria entre a Marinha do Brasil e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), unidade técnico-científica da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), está capacitando militares para apoiar atividades de pesquisa e produção de radioisótopos no Reator IEA-R1.

O acordo prevê o funcionamento do reator em turnos de operação contínua para produção de radioisótopos, planejando a formação de até 40 operadores de reator e quatro profissionais de radioproteção.

Em setembro de 2023, após o exame de qualificação da CNEN, foram licenciados 10 operadores da Marinha, sendo 4 operadores sênior de reator e 6 operadores de reator. Em abril de 2024, mais nove operadores da Marinha e cinco operadores do IPEN foram licenciados.

Os operadores da Marinha, juntamente com os operadores do IPEN, serão responsáveis pela condução da operação e pelo treinamento de novas equipes.

O Gerente-Adjunto de Operações do Reator de Pesquisa IEA-R1, Prof. Dr. Alberto Fernando, explica que o curso prepara os militares da Marinha para o Exame de Qualificação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), garantindo a segurança e eficiência na operação de plantas nucleares.

Treinamentos práticos e teóricos ocorreram nas instalações do Prédio do Reator. (Foto: 1SG-AM Walney)

“Os alunos são capacitados por profissionais que já atuam no Centro do Reator de Pesquisas e no Centro de Engenharia Nuclear do IPEN, em São Paulo. Eles ministraram aulas teóricas e práticas de todos os sistemas da instalação que se encontram detalhados no Relatório de Análise de Segurança (RAS). O aproveitamento tem sido ótimo, pois todos os candidatos, treinados sob coordenação dos pesquisadores Dr. José Roberto Berretta e Dr. Renato Semmler, do Centro do Reator de Pesquisas, foram aprovados, como a turma que concluiu treinamento no final de abril de 2024”, conta Alberto Fernando.

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Fases

O Curso de formação do IEA-R1 é dividido em várias fases, começando com uma parte teórica seguida de um treinamento prático intensivo. Os discentes adquirem conhecimentos específicos sobre a planta nuclear, seus procedimentos operacionais, normas e regulamentações, além de desenvolverem habilidades e atitudes necessárias para um operador licenciado.

O treinamento prático ocorre nas instalações do IEA-R1, permitindo que os alunos enfrentem cenários variados, incluindo situações de emergência. Além disso, o curso inclui avaliações contínuas e estágios supervisionados na planta, onde os alunos aplicam o conhecimento adquirido sob a supervisão de operadores licenciados.

O Capitão de Corveta (EN) Ramon Soares de Faria, explica que o processo de qualificação é rigoroso e inclui várias etapas, com destaque para o exame de qualificação da CNEN.

“O exame da CNEN é um dos momentos mais críticos deste processo e inclui uma parte escrita, que avalia conhecimentos teóricos, e uma parte prática, com situações operacionais e de emergência. Além disso, a CNEN também realiza entrevistas técnicas, onde os candidatos são questionados por uma banca de especialistas sobre diversos aspectos técnicos e operacionais”.

O coordenador e professor Dr. José Roberto Barreta enfatiza que a formação no IPEN é crucial para o desenvolvimento de operadores de reatores, destacando a importância do conhecimento. “Desde o início, busquei transmitir o máximo de informações sobre a instalação, pois isso enriquece o aprendizado dos alunos”, afirma. Ainda segundo Barreta, um dos aspectos mais importantes para um operador de reator é não se limitar ao conhecimento de uma única instalação, mas expandir sua compreensão para outros reatores. “Esse conhecimento abrangente melhora significativamente a segurança na operação”, conclui.

Parceria necessária

Em 2019, o IPEN procurou a MB para verificar a possibilidade de alocar pessoal para viabilizar a retomada da operação por períodos contínuos e prolongados do reator nuclear de pesquisa IEA-R1.

Radiofármacos produzidos pelo IPEN. (Foto: Marinha do Brasil )

Segundo a Diretora-Superintendente do IPEN, Dra. Isolda Costa, “essa parceria propiciará a produção de alguns radioisótopos importantes como o Iodo-131 e o Lutécio-177, possibilitando a disponibilidade, não para atendimento total da demanda nacional, mas em quantidades que permitam pesquisa e desenvolvimento de novos radiofármacos, bem como o atendimento emergencial em momentos de escassez desses radioisótopos no País”, esclarece.

O Diretor-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, Almirante de Esquadra Alexandre Rabello de Faria, destacou que a parceria com o IPEN também atende à necessidade de capacitação dos futuros operadores do Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (LABGENE).

“Esse processo de cooperação é essencial, pois o LABGENE está sujeito às normas da CNEN, e um dos requisitos para os candidatos a operadores é possuir experiência técnica em operações nucleares. E a experiência na operação de um reator nuclear de pesquisa é válida para cumprir parte desses requisitos”, disse o Diretor-Geral.

A parceria tem possibilitado a formação de operadores seniores de reator, de operadores de reator e supervisores de proteção radiológica para o Reator IEA-R1, garantindo também o funcionamento do reator de forma continuada, o que propicia o desenvolvimento do potencial de pesquisa e de produção do Reator IEA-R1.

O Primeiro-Sargento-MA Bruno de Oliveira Machado relatou os desafios de ingressar no curso. “O maior desafio foi entender como funciona o setor nuclear e crescer profissionalmente. Tivemos que sair da “zona de conforto” e mergulhar na vasta área nuclear para nos especializar”, afirmou. Ele destacou a motivação do desafio profissional e a importância de buscar novos conhecimentos. O futuro está caminhando para essa tecnologia, precisamos desmistificar o uso da energia nuclear e mostrar seus benefícios para a sociedade, seja nos setores energéticos, saúde, agroindustrial ou segurança alimentar”, concluiu.

Sobre o Reator

O IEA-R1 é um reator de pesquisa tipo piscina, moderado e refrigerado a água leve e que utiliza elementos de berílio e de grafite como refletores. Foi projetado para operar a uma potência máxima de 5 MW. Ele pode ser utilizado para várias finalidades, com destaque para a produção de radioisótopos para uso em medicina nuclear, tais como: o Samário-153, utilizado como paliativo da dor em metástases óssea e no tratamento de artrite reumatóide; o Iodo-131, utilizado na terapia de câncer de tireóide e hipertireoidismo, na terapia de hepatomas, na localização e terapia de feocromocitomas, neuroblastomas e outros tumores, no estudo da função renal, na determinação do volume plasmático e volume sanguíneo total; e o Irídio-192, produzido na forma de fios metálicos, utilizados na técnica de braquiterapia para o tratamento de câncer. Pesquisas estão sendo realizadas para a produção de geradores de Tecnécio-99m, Lutécio-177 e Rênio-188.

Ainda conforme a Diretora do IPEN, além dos pesquisadores do Centro do Reator de Pesquisas (CRPq), onde o reator está localizado, também utilizam os serviços de irradiação do IEA-R1: o Centro de Engenharia Nuclear (CEN), o Centro de Tecnologia das Radiações (CTR), a Diretoria de Radiofármacos (DIRF), o Centro de Metrologia das Radiações (CMR), o Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) da USP, a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), o Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), o Instituto de Geociências da USP, o Instituto de Física da USP, o Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e o TRACERCO do Brasil (empresa privada que executa inspeções e testes em refinarias de petróleo).

O IPEN recebeu da DGDNTM uma réplica do Submarino Nuclear Convencionalmente Armado, simbolizando a parceria e o compromisso contínuo com o avanço da tecnologia nuclear no país. (Foto: 1SG-AM Walney)

Radiofármacos produzidos pelo IPEN

Com um compromisso contínuo com a excelência e a inovação, a Marinha do Brasil, em parceria com o IPEN, permanece investindo na educação e no treinamento em energia nuclear, formando profissionais altamente capacitados e prontos para liderar o futuro energético do Brasil.

A capacitação desses operadores é essencial para assegurar um futuro próspero e seguro para o Brasil, destacando-se como uma Nação líder no uso pacífico e sustentável da energia nuclear.

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