Semana das mulheres: A investigação com foco na busca da verdade real dos fatos

Dra.Flávia Bassanezi é médica legista da Superintendência da Polícia Técnico-Científica e tem a missão de averiguar as condutas ofertadas aos pacientes e as vítimas

(Foto: Superintendência de Polícia Técnico Científica)

Nesta quarta-feira (8) é comemorado o Dia Internacional da Mulher e a Secretaria da Segurança Pública dá início a semana com uma série de relatos de mulheres que trabalham nas principais instituições da pasta.

Profissionais das diversas áreas de atuação da Polícia Militar, Polícia Civil e Superintendência da Polícia Técnico-Científica foram entrevistadas e contaram um pouco das experiências e trajetórias vividas por elas nestas funções.

Flávia é médica legista, assistente técnica da Superintendência e integra o conselho da Associação dos Médicos Legistas de São Paulo, onde tem contato e influência com diversos profissionais médicos, inteirada dos avanços da área. Desde 2018 ela também é conselheira no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.

Nome completo: Flavia Amado Bassanezi

Função: Médica-legista- Assistente técnica da Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC)

Local de trabalho: Gabinete da SPTC

Quando entrou na carreira policial: 2002

Conte a trajetória profissional?

Terminei a faculdade de medicina na PUC-Sorocaba em 2000, fiz residência médica em ginecologia e obstetrícia após.

No entanto, como já estudava todos os assuntos que envolviam a medicina-legal, prestei concurso público para médico legista da Polícia Científica em 2002 e fui aprovada. Tenho título de especialista em ginecologia e obstetrícia e em medicina legal e perícias médicas, ambos pela Associação Médica Brasileira.

Inicialmente fui designada para a Equipe de Perícias Médico-Legais Sul (EPML-Sul). Foi o melhor campo para crescimento e aprendizado. Lá, adquiri grande experiência na realização dos exames de corpo de delito e exames necroscópicos. Após, para minha surpresa, fui convidada para chefiar a EPML-Oeste e aceitei o desafio proposto. Coordenei a equipe de médicos dessa unidade até 2013.

Queria voltar para a linha de frente, porém, fui convidada para chefiar uma outra equipe, a EPML-Sul, e levar para essa unidade as melhorias que implementamos na equipe anterior. O desafio, desta vez, seria ainda maior.

Para além das dificuldades que a unidade tinha, havia um enorme elemento emocional. Foi nessa unidade que comecei a vida na medicina-legal. Foi o meu primeiro local de trabalho. O trabalho administrativo foi exaustivo, mas compensador e permaneci nessa chefia até meados de 2014.

Neste ano, recebi uma nova missão: levar para a EPML-Centro tudo aquilo que havia implantado nas unidades anteriores. Permaneci como chefe dessa equipe até outubro de 2015.

De 2015 até 2018 fui convidada a integrar a Comissão de Pareceres do IML (onde são realizadas perícias em prontuários médicos para averiguar as condutas ofertadas aos pacientes e as vítimas.

Em 2016 passei no concurso de professores da Acadepol. Em 2019, outro novo desafio e outra nova missão. Fui convidada para assessorar o superintendente. Desta vez, o trabalho seria atender a todo o estado e ambos os institutos (IC e IML) não mais a uma equipe.

Olhar para a medicina-legal e para a Instituição de modo tão mais amplo e abrangente requer uma carga adicional de responsabilidade e cuidado. E, desde então, permaneço no Gabinete da SPTC.

O que chamou a atenção na carreira policial?

A oportunidade de utilizar os conhecimentos técnicos e científicos da área médica no campo do direito e da investigação com foco na busca da verdade real dos fatos.

Por que escolheu essa carreira em específico?

O interesse espontâneo pela medicina-legal começou desde a faculdade. O assunto dominava minha curiosidade e minhas horas de estudos extras, de modo que seria inevitável seguir na carreira. Após formada, quando surgiu a oportunidade de prestar o concurso, imediatamente fiz a inscrição.

Qual foi o caso mais marcante na sua carreira? Por que?

Acredito que o caso mais marcante foi o acidente aéreo com o então candidato Eduardo Campos, quando coordenava a EPML-Centro. O caso demandou um trabalho grande e intensivo de toda a equipe envolvida e, cursou com grande repercussão na mídia (nacional e internacional).

Qual foi o caso que mais te emocionou? Por que?

As pessoas imaginam que a área forense nos torna mais frio. Engano. É extremamente no desenvolvimento desse trabalho que nos tornamos mais humanos, que tomamos contato com a finitude do que entendemos por vida. E que a vida, de verdade, é sustentada por um fio muito fino.

Não posso precisar qual caso mais me emocionou. Tenho enorme respeito por todos os casos que estiveram sob os meus cuidados. Cada caso com suas particularidades e peculiaridades, porém, todos perpassam pela minha emoção e respeito. Apontar um, específico, traz a impressão de maior importância. E isso não é verdade para minha vida pessoal e profissional.

Como você vê a participação da mulher na carreira?

Acredito que a mulher vem ganhando cada dia mais espaço na Polícia Científica. Essencialmente, a área policial é fortemente marcada pela presença masculina, sobretudo nos cargos de chefia.

Porém, tenho a felicidade de estar em uma instituição policial, que pela essência do seu trabalho está ligada à ciência e ao conhecimento, em que o saber é mais valorizado que o ser.

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