A Prefeitura de São José dos Campos intensificou a abordagem social junto aos moradores em situação de rua para que eles possam ter apoio nos abrigos municipais para reconstruir suas vidas.
Com a experiência de quem trabalha há 7 anos como educador social, Eduardo William Martimiano, de 28 anos, alerta que as doações feitas pela população não são a forma mais efetiva de ajudar as pessoas em situação de rua.
“Doações de dinheiro, comida, roupa e outros materiais não vão resolver nem melhorar a vida das pessoas que moram nas ruas. No dia seguinte, elas estarão lá novamente. A melhor e mais efetiva ajuda da população é acionar a Prefeitura quando se deparar com esta situação, ligando para o 153”, disse Martimiano.
O educador social orienta os munícipes a doar para o Fundo Social de Solidariedade, que fará o encaminhamento para as entidades sociais que têm parceria com a Prefeitura.
“Desta maneira, a população estará contribuindo com nosso trabalho, evitando que o vínculo das pessoas com as ruas seja fortalecido. E as doações terão o destino correto, ajudando as pessoas necessitadas”, afirmou.
Há 5 anos atuando com as pessoas em situação de rua, a assistente social Francisca Izabel da Silva, de 57 anos, destaca as vantagens da abordagem e do acolhimento.
“Além de irem para os abrigos, onde terão todo apoio e atendimento humanizado, as pessoas que estiverem doentes serão encaminhadas para as unidades de saúde, onde serão tratadas e curadas”.
No dia a dia de sua função com as pessoas que mais precisam, Francisca constatou que grande parte dos materiais doados é descartada, gerando lixo em toda a cidade.
“Muito do que é doado vira lixo, podendo gerar doenças, ou vira moeda de troca para compra de bebidas e drogas, o que prejudica ainda mais a vida destas pessoas”, disse Francisca.
“Sabemos que quem doa está com boa intenção, mas é algo que precisa ser repensado para não estimularmos o vínculo das pessoas com as ruas. Contamos com a ajuda da população para mudarmos este cenário, diminuindo cada vez mais o número de pessoas em situação de rua em nossa cidade”, completou.
Diariamente, a Prefeitura realiza a limpeza dos resíduos de lixo gerados pelos moradores em situação de rua durante as noites e madrugadas em todas as regiões.
A maioria do material retirado das ruas é proveniente de doações. São recolhidos isopores e alumínios de marmitas, espumas e restos de colchões, cobertores velhos, madeiras, lonas, sofás e objetos cortantes, como facas e canivetes.
Os assistentes e educadores sociais também participam do trabalho integrado com a finalidade de oferecer abrigo para quem aceitar ajuda.
Abordagem
O trabalho de abordagem realizado pela Prefeitura conta com 10 equipes, que atuam 24 horas por dia, inclusive aos sábados, domingos e feriados. O serviço é executado em conjunto com a Guarda Civil Municipal e com a Policia Militar, por meio da Atividade Delegada.
Os abrigos municipais estão preparados para acolher todos os moradores em situação de rua. Os locais estão divididos para atender os públicos: masculino (Abrigo Viva), feminino, LGBTQIA+, família e AVD (Atividade da Vida Diária), este último para pessoas idosas e com dificuldades de locomoção.
O Abrigo Viva tem um diferencial, oferecendo canil e gatil para acomodar os pets das pessoas que são acolhidas no local.
A cidade conta ainda com o serviço do CAPS AD (Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas), que oferece todo suporte para a população em situação de rua com dependência. Também há o Sama (Serviço Ambulatorial Especializado no Tratamento da Dependência Química em Mulheres e Adolescentes).
Eduardo Willian Martimiano
Educador social e membro da equipe de abordagem às pessoas em situação de rua
Como é seu trabalho com as pessoas em situação de rua?
Já realizo este trabalho há 7 anos. Temos equipes capacitadas que estão nas ruas todos os dias, 24 horas por dia, inclusive nos finais de semana e feriados. São educadores sociais e assistentes sociais com todo o treinamento para ajudar as pessoas em situação de rua. Realizamos atendimento e trabalho humanizado.
Com sua experiência, doações de dinheiro, alimentos, roupas, colchões e cobertores ajudam as pessoas em situação de rua?
Doação não é a melhor alternativa. Quanto mais doações recebem, maior o vínculo destas pessoas com as ruas. Elas não vão querer ir para os abrigos nem aceitar a ajuda da Prefeitura. A ajuda efetiva é tirar estas pessoas das ruas. A população pode ajudar muito nesse processo. Quando se deparar com uma pessoa em situação de rua, ligue 153. A ligação é gratuita.
Nossas equipes irão imediatamente até esta pessoa para prestar todo o apoio necessário e levá-la para o abrigo, onde terão comida, cama, higiene completa, segurança, atendimento humanizado e todo o apoio social e psicológico para que possam reconstruir suas trajetórias de vida. E quem precisar de ajuda médica será encaminhado para nossas unidades de saúde, recebendo todo o tratamento necessário para se curar.
O que é doado é efetivamente aproveitado?
Nossa experiência comprova que não. Diariamente, as equipes da Prefeitura recolhem muita coisa descartada pelas pessoas em situação de rua durante as noites e madrugadas. São colchões, cobertores, alumínio e isopor de marmitas, madeira e diversos outros materiais. Além de sujar a cidade, pode causar doenças. Então, estas doações não são efetivas e não vão resolver a vida destas pessoas.
Para quem quer doar, como deve proceder?
Ao invés de doar diretamente para as pessoas em situação de rua, orientamos os munícipes e voluntários a doarem para o Fundo Social de Solidariedade, que irá fazer o encaminhamento para as entidades sociais que mantêm parceria com a Prefeitura. Desta forma, as doações chegarão às pessoas que efetivamente precisam.
Procurem a Prefeitura que nós orientaremos como devem proceder de maneira correta. Juntos, poderemos fazer mais e melhor para reduzir cada vez mais o número de pessoas em situação de rua em nossa cidade.
