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Jogadores de futebol da Síria treinam para se profissionalizar no Rio de Janeiro

Jogadores de futebol da Síria treinam para se profissionalizar no Rio de Janeiro. (Foto: Vítor Madeira)

O campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, e o município de Resende, no estado do Rio de Janeiro, estão unidos por um elemento especial: o Pérolas Negras, clube de futebol da cidade.

No início de 2018, a comissão técnica do time foi a Zaatari selecionar jovens com potencial de se tornarem jogadores profissionais: os atletas que se destacassem seriam convidados para integrar a equipe. Dos 150 que participaram da seleção, cinco foram escolhidos: Ahmad, Hafith, Jawdat, Omar e Quais.

Com cerca de 77,4 mil habitantes, o campo de Zaatari foi criado em 2012 pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) para acolher pessoas que deixaram a Síria por conta da guerra iniciada um ano antes. O que começou com algumas poucas tendas é hoje um grande assentamento em meio à aridez de uma região desértica.

Natural da cidade Homs, Ahmad, de 17 anos, teve que deixar a Síria rumo ao país vizinho antes de completar 10 anos.

“Antes da guerra, um time levava anualmente dez meninos para treinar no Catar. Eu fui selecionado, mas não pude ir porque foi quando a guerra começou”, disse o meio-campista, fã de Neymar.

Já Hafith é chamado de Marcelo, uma homenagem ao seu ídolo, o jogador brasileiro que atua na lateral esquerda do Real Madrid.

“Eu estou super bem aqui. A minha única dificuldade, realmente, é com o idioma, mas eu sei que vou superar esse obstáculo e que vai ficar tudo bem”, disse Hafith. O jovem é natural de Daara, cidade a cerca 13 quilômetros da fronteira com a Jordânia. O ACNUR estima que cerca de 79% dos habitantes do campo de Zaatari tenham vindo de lá.

Além de Ahmad e Hafith, Omar e Quais também são jogadores, enquanto Jawdat é treinador. Os jovens desembarcaram no Brasil em setembro de 2018 e seguem treinando e se adaptando à vida no país.

O zagueiro Quais, de 14 anos, morou no assentamento por quase metade de sua vida. Quando criança, jogava bola nas ruas da Síria, mas foi na Jordânia que começou a pensar em se tornar atleta profissional.

“Em Zaatari, eu era parte de uma equipe, e o treinador nos comunicou que haveria uma seleção para jogar profissionalmente no Brasil. Eu me inscrevi e acabei passando. É maravilhoso poder jogar futebol”, disse o adolescente, fã do zagueiro brasileiro Thiago Silva.

Segundo o ACNUR, mais de 5,6 milhões de sírios vivem em situação de refúgio. A maior parte deles está na Turquia, no Líbano e na Jordânia, países vizinhos à Síria.

No Brasil, dados do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) mostram que 541 sírios foram reconhecidos como refugiados no Brasil em 2018. O número corresponde a cerca de 50% de todos os pedidos de refúgio reconhecidos. No mesmo ano, outros 409 sírios solicitaram o reconhecimento de sua condição de refugiado.

O Pérolas Negras e a adaptação no Brasil
Fundada no Haiti pela ONG Viva Rio, a Academia de Futebol Pérolas Negras é parte de uma série de iniciativas de integração social para a juventude do país.

Percebendo que o talento dos jogadores haitianos era incompatível com as poucas oportunidades no futebol local, o clube criou o centro de treinamento no sul fluminense, onde os jovens mais habilidosos poderiam se profissionalizar no mercado brasileiro e continuar sua educação formal.

Hoje, cerca de 60 atletas brasileiros, sírios e venezuelanos têm vínculo com o Pérolas Negras. A convivência do Centro de Treinamento gira em torno do futebol e a rotina é programada em torno dos treinos e dos estudos. Ainda assim, sobra tempo para o afeto.

“Eu tenho dois filhos que moram longe, e eles me contam que as pessoas de lá os adotaram. Quero fazer o mesmo, porque esses meninos estão longe da família. Eles tiram fotos minhas, mandam para as mães e elas me agradecem, pedem para que eu ajude a cuidar deles”, disse Iolanda Batista, cozinheira do Pérolas Negras.

Apesar da dieta balanceada que os atletas são obrigados a seguir, Iolanda aprendeu a cozinhar pratos típicos do Haiti e da Síria para diminuir a saudade que os meninos sentem de casa.

Mesmo com as diferenças de idioma, os jogadores se entendem em campo. Agora, chegou o aguardado momento de participar de uma competição oficial para demostrar toda sua dedicação e resiliência.

“É o sonho de qualquer jogador de futebol vir para o Brasil. Sair de perto da família é difícil, mas qualquer jogador que queira se profissionalizar e ter projeção vai precisar passar por isso”, disse o jovem atacante Omar, de 16 anos.

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