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ARTIGO: Mudanças climáticas — vamos ouvir os jovens do mundo

Em Westminster, no Reino Unido, jovens em protesto na última sexta-feira (15) por ações climáticas urgentes. (Foto: Flickr (CC)/Rox)

Em artigo divulgado na imprensa portuguesa, o secretário-geral da ONU, António Guterres, celebra o ativismo dos milhares de jovens que foram às ruas na última sexta-feira (15) para cobrar ações climáticas urgentes de governos e do setor privado.

Chefe das Nações Unidas alerta para a necessidade de mudanças radicais nas sociedades, com a eliminação dos subsídios para combustíveis fósseis e atividades agrícolas de elevados níveis de emissões e com a escolha por energias renováveis, veículos elétricos e práticas que respeitem o clima.

Mudanças climáticas — vamos ouvir os jovens do mundo, por António Guterres, secretário-geral da ONU *

Dezenas de milhares de jovens foram esta sexta-feira (15) às ruas com uma clara mensagem para os líderes mundiais: atuem agora para salvar o nosso planeta e o nosso futuro da emergência climática.Estes estudantes aprenderam algo que muitas pessoas mais velhas parecem não entender: estamos correndo contra o relógio pelas nossas vidas e estamos perdendo. A janela de oportunidade está se fechando e não podemos nos dar ao luxo de perder mais tempo. Atrasar a ação climática é quase tão perigoso quanto negar a existência de mudanças no clima.

A minha geração não conseguiu responder adequadamente ao dramático desafio das mudanças climáticas e isso é profundamente sentido pelos jovens. Não admira que estejam irritados.

Apesar de se falar do problema há muitos anos, as emissões globais estão batendo níveis recordes e não mostram sinais de terem atingido o seu pico. A concentração de dióxido de carbono na atmosfera é a mais alta em 3 milhões de anos.

Os últimos quatro anos foram os mais quentes já registados e as temperaturas no inverno no Ártico avançaram 3 °C desde 1990. O nível do mar está subindo, os recifes de corais estão morrendo e começamos a ver o impacto das mudanças climáticas na saúde, através da poluição do ar, das ondas de calor e dos riscos para a segurança alimentar.

Felizmente, temos o Acordo de Paris, um instrumento político visionário, viável e voltado para o futuro que define exatamente o que deve ser feito para travar as perturbações do clima e reverter os seus impactos. No entanto, o acordo em si é inútil caso não haja uma ação ambiciosa.

Por isso, vou reunir os líderes mundiais numa Conferência sobre Ação Climática no final deste ano. Convocarei todos a virem a Nova Iorque, em setembro, com planos concretos e realistas para aumentar suas contribuições nacionais até 2020, em linha com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 45% na próxima década e eliminá-las em 2050.

A Conferência reunirá governos, setor privado, sociedade civil, autoridades locais e outras organizações internacionais para desenvolver soluções ambiciosas em seis áreas: energias renováveis; redução de emissões; infraestruturas sustentáveis; agricultura e gestão sustentável de florestas e oceanos; combate aos impactos climáticos; e investimento na economia verde.

Os estudos mais recentes mostram que, se agirmos agora, podemos reduzir as emissões de carbono em 12 anos e limitar o aquecimento global em 1,5 °C. Contudo, se continuarmos pelo mesmo caminho, as consequências são imprevisíveis.

Embora a ação climática seja de importância extrema para combater uma ameaça existencial, também implica custos. Por isso, os planos de ação não devem criar vencedores e perdedores, nem aumentar a desigualdade econômica. Devem ser equitativos e criar novas oportunidades para aqueles que são impactados negativamente, no contexto de uma transição justa.

As empresas estão do nosso lado. Acelerar soluções climáticas pode fortalecer as nossas economias e criar empregos, ao mesmo tempo que proporcionam um ar mais limpo, preservam os habitats naturais, a biodiversidade e protegem o meio ambiente.

As novas tecnologias e as soluções de engenharia já estão fornecendo energia a um custo menor do que a economia movida a combustíveis fósseis. A energia solar e a energia eólica onshore são já as fontes mais baratas das transações de energia em praticamente todas as principais economias. Contudo, devemos pôr em marcha uma mudança radical.

Para tal, é necessário eliminar os subsídios a combustíveis fósseis e a atividades agrícolas com elevados níveis de emissões e optar por energias renováveis, veículos elétricos e práticas que respeitem o clima. Os preços do carbono devem ser fixados de forma a refletir o verdadeiro custo das emissões, desde o risco climático aos perigos que implicam para a saúde, provocados pela poluição do ar.

Também é importante acelerar o encerramento das centrais a carvão e substituir esses postos de trabalho por alternativas mais saudáveis, para que a transformação seja justa, inclusiva e lucrativa.

O momento é propício: as pessoas estão atentas e há agora uma nova determinação em cumprir a promessa do Acordo de Paris. A Cúpula do Clima deve ser o ponto de partida para construir o futuro que precisamos.

Termino com uma mensagem para as e os jovens que se manifestaram esta semana. Eu sei que eles podem e mudam o mundo.

Hoje, muitos de vocês estão ansiosos e com medo do futuro, e eu entendo suas preocupações e raiva. No entanto, sei também que a humanidade é capaz de enormes conquistas. Suas vozes me dão esperança.

Quanto mais percebo seu compromisso e ativismo, mais confiança tenho de que vamos ganhar. Juntos, com sua ajuda e graças aos seus esforços, podemos e devemos superar esta ameaça e criar um mundo mais limpo, mais seguro e mais verde para todos.

  • Publicado originalmente no português Diário de Notícias, em 16 de março de 2019. 

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