Grupos e organizações com diferentes pautas, de diversas localidades e com muitas formas de mobilização, reunidos por uma certeza, a de que “um outro mundo é possível”, abriram nesta terça-feira (19) o Fórum Social Mundial, evento que está completando 15 anos.
Para celebrar este marco, o Fórum Social Temático promoveu a tradicional marcha de abertura, reunindo os milhares de participantes do evento em uma caminhada. A marcha percorreu ruas do centro da cidade até o Largo Zumbi dos Palmares, onde teve início a programação cultural.
Cantando palavras de ordem e erguendo bandeiras, a caminhada resume bem o propósito do Fórum Social Temático. “Este é um espaço para que as redes que debatem os diversos temas relacionados aos direitos se encontrem, saiam mais fortalecidas e retornem para fazer essa disputa em seus países”, disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Rio Grande do Sul, Claudir Nespolo, integrante do comitê organizador local do fórum. Nesta quarta-feira (20) tem início a programação oficial, com mesas de convergência e atividades autogestionadas.
Da Paraíba, veio Joana D’Arc Silva, da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB). Para Joana D’Arc, a participação das mulheres no fórum chama a atenção para a necessidade de pautar as questões de gênero nas mais diferentes temáticas. “A AMB vem defendendo, no debate sobre democracia, por exemplo, a defesa da paridade. Não se pode entender a democracia numa sociedade em que a desigualdade entre homens e mulheres esteja na pauta”, afirmou Joana D’Arc, que destaca a necessidade de pensar a participação de outros segmentos da sociedade, como a população negra e os povos nativos.
Com o tema Paz, Democracia, Direito dos Povos e do Planeta, o fórum vai debater questões como o conflito entre Israel e Palestina. Integrante do Fórum Gaúcho de Solidariedade ao Povo Palestino, Spartacus da Rocha destacou que a proposta do grupo é fazer com que os brasileiros tenham mais conhecimento das disputas no Oriente Médio. “Nossa proposta é divulgar o movimento mundial de boicote, desinvestimento e sanções a Israel até que se cumpram os direitos do povo palestino”, disse Spartacus. Ele defende a proposta de dois países e dois Estados independentes.
Whelton Pimentel, mais conhecido como Leleco, coordenador da União Nacional por Moradia Popular e conselheiro nacional das Cidades, ressaltou a necessidade de uma reforma urbana. “Tratamos, sobretudo, de uma campanha sobre a função social da cidade. Defendemos o fortalecimento das ocupações [por moradia]. O direito de propriedade continua sendo maior que o direito de morar neste país”, criticou.
Para Whelton, o fórum mantém a unidade de organizações populares. “É um lugar em que a gente vem buscar energia e comungar com movimentos urbanos, rurais, porque temos pauta comum. Nossa pauta está na rua e não foi inventada ontem”, afirmou.
Estudantes pedem saída de Cunha
Jovens presentes ao evento, por sua vez, exigiram que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deixe o posto, já que é alvo de denúncias de corrupção. A estudante Ezequiela Scapini, da organização Levante Popular da Juventude, disse que este é um tema fundamental para os jovens, pois muitos dos retrocessos nos direitos sociais discutidos no Congresso Nacional tiveram participação do deputado. “Estamos presentes no ato pautando o ‘Fora, Cunha’ por tudo que ele representa, pois, mesmo com todo o empenho da sociedade civil, ele continua lá.”
Também participam do fórum representantes dos governos, seja federal, estaduais e municipais, que esperam captar demandas da sociedade civil. O ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rosseto, que estava na marcha de abertura, disse que o evento é um espaço de muita energia, capaz de lançar o desafio de se construir outro mundo.
“Aqui estão os defensores da democracia, da justiça social. Aqui nós encontramos ideias, propostas e compromissos de políticas públicas que transformam o nosso país”, afirmou Rossetto, que participará de um debate sobre democracia econômica na quinta-feira (21).