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Inflação e facilidade de acesso aumentam procura por vendas no atacado

Redes de atacarejo, que misturam o atacado com o varejo, têm proliferado nos últimos anos. (Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil)
Redes de atacarejo, que misturam o atacado com o varejo, têm proliferado nos últimos anos. (Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil)

Comprar em volumes maiores e improvisar espaços em casa para estocar mantimentos. A alta da inflação e a facilidade de acesso estão ajudando o consumidor a aderir, cada vez mais, às redes de atacarejo, que misturam o atacado com o varejo e têm proliferado nos últimos anos. Atraídos pelo custo unitário mais baixo das mercadorias, os compradores estão migrando para uma modalidade que, durante muitos anos, tinha a preferência de pequenos comerciantes.

De acordo com a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), o setor cresceu 7,3% no ano passado, 0,9 ponto percentual acima da inflação e acima do crescimento de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país). Com faturamento de R$ 211,8 bilhões em 2014, os atacadistas concentraram 51,7% do mercado nacional de mercearias.

Segundo o levantamento, as redes de atacarejo respondem por boa parte do crescimento, impulsionadas por consumidores que, em tempo de inflação alta, de crédito escasso e de aumento do desemprego, ficaram mais cautelosos em relação às compras do mês.

“O consumidor não quer abrir mão das marcas que conquistou nos últimos anos. Para isso, reduziu a ida às lojas e aumentou as visitas aos pontos de atacarejo”, disse Olegário Araújo, diretor de Atendimento ao Varejo e ao Atacado do Instituto Nielsen, responsável pela pesquisa, em parceria com a Abad.

O consultor de varejo Alexandre Ayres, da Neocom Informação Aplicada, informou ter detectado o aumento do interesse pelas redes de atacarejo desde o ano passado, quando a inflação subiu de forma mais intensa. Ele destacou que as compras em grande volume são vantajosas ao levar em conta o custo unitário, quando se divide o valor da caixa ou do pacote pelo número de embalagens. “Na prática, o atacado funciona como um desconto pelo maior volume”, esclareceu Ayres.

O atacado é bem mais barato que comprar em supermercados. O preço sobe cada dia. Então, prefiro fazer uma compra maior para durar mais , diz a advogada Cecilia Rodrigues

“Num primeiro momento, o consumidor paga mais porque compra em volumes maiores, mas, ao fazer as contas, a compra no atacado sai mais barata, porque tem um custo unitário menor”, explicou Ayres. “Com a inflação, o consumidor está deixando de comprar marcas caras em pequenas embalagens para comprar marcas baratas em grandes embalagens”, acrescentou o consultor.

A advogada Cecilia Rodrigues, 36 anos, afirmou que a inflação a fez mudar de comportamento. “O atacado é bem mais barato que comprar em supermercados. O preço sobe a cada dia. Então, prefiro fazer uma compra maior para durar mais.” Para estocar as mercadorias, ela transformou um quarto de empregada em dispensa.

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Apesar de baratearem as compras, as redes de atacarejo não atendem todas as necessidades dos consumidores, principalmente em relação a produtos perecíveis e a mercadorias que exigem reposição imediata. Segundo Araújo, do Instituto Nielsen, os consumidores têm recorrido a mercadinhos ou a lojas de conveniência perto de casa para complementar as compras do mês.

“Constatamos essa tendência em todos os níveis socioeconômicos. O consumidor vai ao atacado uma vez por mês e faz visitas esporádicas às lojas da vizinhança para manter o padrão de vida.” Para Olegário Araújo, outros fatores que aumentaram o interesse pelas redes de atacarejo são o aumento do número de lojas dessa modalidade e o crescimento da frota de veículos nos últimos anos. “Quem consome no atacado precisa de um carro para carregar as compras.”

O que também tem estimulado a demanda pelo atacado são as redes sociais, por meio das quais os consumidores formam grupos para ratear as compras em grandes volumes. “Uma pessoa faz compras e divide com o restante do grupo. É bem variado. Compramos bebidas, sucos, cervejas e refrigerantes nesse sistema”, disse Kaiki Maciel, 25 anos, morador de Formosa (GO), a 75 quilômetros de Brasília, que vem à capital federal comprar em redes de atacarejo.

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