fbpx
publicidade
𝑝𝘶𝑏𝘭𝑖𝘤𝑖𝘥𝑎𝘥𝑒

Sonho de entrar para o mundo do balé acirra disputa por vaga em escola do Rio

Grandes nomes do balé deram primeiros passos nas salas do MunicipalCristina Indio do Brasil/Repórter da Agência Brasil
Grandes nomes do balé deram primeiros passos nas salas do Municipal. (Foto: Cristina Indio do Brasil/Repórter da Agência Brasil)

O gosto pelo balé une meninos e meninas na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, vinculado à Secretaria de Estado de Cultura. Esse gosto junta também meninos e meninas de diferentes faixas de renda. Enquanto alguns já fizeram aulas em escolas particulares, outros frequentaram projetos em comunidades e tem ainda os que nunca estudaram balé.

Conseguir uma vaga naquela que é considerada a principal escola de dança do Rio, fundada em 1927, transforma-se em uma disputa acirrada. A procura é grande e é preciso passar por uma seleção rígida para verificar o potencial da criança ou do adolescente para a dança. E é justamente essa capacidade que faz alguns levarem vantagem na escolha.

publicidade


Sinthia Liz, que mora no centro do Rio, entrou para a escola com 8 anos e nunca tinha passado por uma aula de dança. “A minha história é engraçada. Eu andava meio corcunda quando tinha 5 anos, minha mãe ficou preocupada e me levou ao médico, que disse que seria bom me botar no baé para corrigir a postura.” Hoje com 17 anos, Sinthia afirma que não pode pensar na vida sem o balé. A única fase em que precisou ficar afastada das aulas foi quando teve uma lesão e não pôde dançar por cinco meses. “Foi um sofrimento, mas agora estou bem”, diz, aliviada.

No próximo dia 13, a bailarina embarca para a Alemanha para estudar balé na Fundação Heinz Bosl, da Universidade de Artes de Munique. Sinthia fará parte da Junior Company e poderá dançar com a companhia principal. “Até agora, é difícil acreditar. A ficha só vai cair quando eu estiver lá na sala de aula com outros professores, outros alunos, dividindo a forma de trabalhar de modo diferente.”

O contrato, de um ano, pode ser renovado por mais 12 meses. A diretora da escola Maria Olenewa, Maria Luisa Noronha, foi quem conseguiu a vaga para Sinthia. “Ela está felicíssima. Eu estou tão contente que parece que sou eu. Fico pulando de felicidade, porque consegui colocar esta menina numa companhia muito boa”, conta, animada, Maria Luisa.

Morador do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, Luiz Fernando Daniel Rego estuda na Maria Olenewa, mas Já fazia um projeto de dança na comunidade, quando foi incentivado a se inscrever na escola do Theatro Municipal. No começo, diante da rigidez dos professores, pensou em desistir. “Eu me sentia mal. Não me sentia acolhido por todos. Aí, comecei a conversar com os professores e eles me deram apoio.”

Luiz Fernando chegou a ter algumas faltas, mas acabou chegando à conclusão de que queria mesmo fazer balé, e não podia ser fora da Olenewa. “Se a escola não me desse a técnica, eu não estaria aqui hoje”, diz o jovem, cujo sonho é ser o primeiro bailarino do Municipal. Ele pensa também em cursos no exterior. “Quero estudar na Alvin Ailey [escola de dança de Nova York, nos Estados Unidos]. Eu tenho grandes aspirações e isso me motiva.”

Para chegar a um destaque maior neste universo não adianta ter apenas a técnica da dança. É preciso ter uma formação completa e expandir a cultura. Paulo Melgaço, que há 23 anos é professor de história da dança na escola, informa que, além de cursarem outras disciplinas, até um jornal é produzido pelos alunos. “Produzem as matérias e fazem as entrevistas. Tentamos formar sujeitos, seres humanos para a vida.”

Vida difícil
Apesar de a imagem dos bailarinos ser lúdica e fazer parte do imaginário de muita gente, a vida deles é difícil. São muitos estudos e ensaios para aprimorar a técnica, contusões, dores e tratamentos contra lesões, Existe, porém, compensação.

“Não tem explicação. O bailarino está com dor, toma um remédio e dança. Eu já dancei sem unha. Enquanto a gente ‘está bailarina”, a gente quer dançar. É o que alimenta a gente. [Sem a dança] é como se tirassem o nosso feijão com arroz e a nossa água”, disse a primeira bailarina do Municipal, Claudia Mota, que começou a estudar balé aos 4 anos e se formou na Escola Maria Olenewa.

Segundo Claudia, a satisfação aumenta se a próxima apresentação for com o balé favorito. “Giselle. Dizem que quando a bailarina chega a fazer Giselle, ela se torna uma grande bailarina, porque é uma carga emocional muito grande, aliada a um esforço físico muito grande. É um balé muito respeitado e antigo. É muito difícil interpretar e viver Giselle. É uma história muito linda e um desafio para a bailarina”, diz Claudia. Giselle foi um balé que marcou sua carreira: “Já dancei aqui no Municipal, já dancei fora, já fiz tournées [viagem com itinerários determinados com finalidade artística]. É um balé de que eu gosto, porque sou dramática.”

Para Maria Luisa Noronha, que tem uma vida dedicada à dança e, além de ser bailarina, pôde passar para o outro lado do balcão ao assumir a direção da escola, o fato de ser pública e a qualidade do ensino  explicam a grande procura da Olenewa. “Mas a qualidade do ensino é o lance da excelência. Tem aula todo dia. A dança dá disciplina e uma formação muito boa.”

Duas das primeiras bailarinas do Theatro Municipal do Rio também estão passando por uma experiência nova. Há dois meses, Ana Botafogo e Cecilia Kerche dividem a direção do corpo de baile e a tarefa não tem sido fácil. “É a maior companhia de dança clássica no Brasil, a mais importante, com mais tradição. Vamos fazer 80 anos de vida no ano que vem. Então, é um privilégio, mas uma grande responsabilidade e uma grande missão”, afirma Ana Botafogo.

De acordo com Ana, a renovação do corpo de baile é feita, em parte, com alunos que se formam na escola Maria Olenewa. “Mas não passam automaticamente. Podem se formar, mas nem todos acabam virando bailarinos.” Alguns se tornam professores e outros, coreógrafos.

Se depender da menina Anoushka Durão, de 8 anos, o futuro já está traçado. Desde o início do ano, ela frequenta as aulas – todos os dias vai para lá com um sorriso no rosto e com os olhos brilhando. “É muito legal porque é a minha chance de ser uma bailarina profissional. Preciso praticar muito”, afirma Anoushka, ao lado da mãe, a fotógrafa canadense Chantal James, que mora no Brasil há dez anos e já foi bailarina.

Cecilia Kerche diz  que se vê nas crianças que chegam à escola e pretendem seguir a carreira. Ela conta que seu primeiro contato com a dança foi quando assistiu a uma aula e ficou fascinada com o giro das bailarinas na ponta dos pés. “Me encantou e vejo esse encantamento também nas crianças que encontro. Aqui a criança já fica vendo o futuro dela [no contato com os bailarinos do corpo de dança] e sabendo que, com o árduo trabalho na escola, será possível fazer o seguimento artístico da carreira.”

Inscrições abertas
Neste mês a escola recebe inscrições de novos alunos. Arlene Ramos conhece bem essa rotina: mãe de uma ex-aluna, depois de acompanhar a filha, que entrou para a escola em 1989, acabou como funcionária. Todos os anos, Arlene vê a ansiedade de quem se inscreve e pretende seguir no ballet. “Todo mundo chega aqui e diz que a filha é uma Ana Botafogo e que vai passar. Sempre tem. Ela [Ana Botafogo] é uma referência.”

Sabrina Cunha, que mora no centro do Rio, foi logo ao teatro no primeiro dia de inscrição por insistência da filha, que há três meses dizia que queria tentar fazer a seleção. “Quero que minha filha dance aqui, até pelo fato de ser bailarina do Theatro Municipal, que tem bastante nome lá fora”, confessa Sabrina, referindo-se à qualidade do ensino. “Tenho certeza de que ela vai passar na seleção. Vai ser a única bailarina da família.”

A enfermeira Maria Efigênia de Oliveira, moradora de Botafogo, tenta explicar o papel dos pais no incentivo aos filhos que querem entrar no mundo da dança. A filha de Maria Efigência faz balé desde os 5 anos e agora, aos 9, quer passar pela seleção na Maria Olenewa. A mãe diz que está preparada para ficar sentada em um banco, do lado de fora das salas de aula, esperando a filha terminar o este. “Pelos filhos, a gente faz qualquer coisa, porque vale a pena. Vale muito a pena”, afirma.

A funcionária Arlene destaca que, no início, o movimento das inscrições é mais fraco, mas, no meio do mês, começa a aumentar e, perto do encerramento, a corrida é grande. “Tem até que distribuir senha.” Arlene diz que já acompanhou o desenvolvimento da carreira de muitos alunos e, com felicidade, cita o sucesso alcançado por Sinthia Liz. “A gente fica muito contente e emocionada, a Sinthia está indo para Munique. A gente a viu começar no preliminar. É muita emoção.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo