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“Má Pele” traz ao palco drama do Preventório em Jacareí

Espetáculo é beneficiado pela LIC (Lei de Incentivo à Cultura. ( Fotos: Valter Pereira/PMJ)
Espetáculo é beneficiado pela LIC (Lei de Incentivo à Cultura. (
Fotos: Valter Pereira/PMJ)

“Ser diferente junto é mais fácil. Quando me descobri fora do Preventório eu senti diferente sozinho… Mas já não tenho medo.” A fala é do garoto Joaquim, um dos personagens de Má Pele, que estreia amanhã em Jacareí. O espetáculo traz à tona o drama vivido por crianças e adolescentes, filhos de pais portadores da hanseníase, que eram retiradas do convívio familiar e trazidas para o Preventório de Jacarehy, entre os anos de 1932 e 1952, conforme a política de saúde pública da época.

O trecho acima revela um misto de medo, indiferença, saudade, solidão, persistência, coragem e esperança, sentimentos que permeiam o espetáculo, centrado em Joaquim e mais três personagens: Lazinho, Joana e Camila.

Lazinho é um garoto comum, que se diverte apanhando goiaba verdolenga no pé. Mas um dia é levado bruscamente para o Preventório, onde tem dificuldades para se adaptar às regras do local e ao mesmo tempo superar a saudade dos pais. “Eu ficava lá pelo costume de esperar mesmo”, diz o garoto, em determinado momento do espetáculo, que passa meses olhando o trem na esperança de que traga o seu pai. Mesmo drama é vivido pelas garotas Joana e Camila. “Eu já fugi (do Preventório) porque não me identifico com nenhuma instituição, com nenhum grupo, com nenhuma família… eu sou a minha própria família”, diz Camila em uma das cenas.

O diretor Edgar Castro comenta sobre a carga dramática que caracteriza o espetáculo. “Estamos tratando de um campo emocional que não é dos mais felizes. Essa violência da Saúde Pública que caracteriza o período, essa falta de cuidado com os laços familiares”, expõe. “Quando começamos a montagem, notamos que não há um episódio, um fato espetacular, como um incêndio de grandes proporções, por exemplo, que gerasse uma fábula, uma lenda. O nosso apoio são as narrativas, os relatos pessoais. Então veio a tentativa de criar vozes para os indivíduos que vivenciaram esse drama. E isso exige de nós sensibilidade e delicadeza para a realização do espetáculo”, acrescenta Castro.

Humor — Mas o espetáculo não é o tempo todo denso. Os personagens também revelam o lado da brincadeira, da alegria. “O tema é dramático, mas há momentos de alívio, em que a plateia também ri”, comenta Ramos. Um exemplo é a cena em que aparecem duas faxineiras, uma delas fã de Carmen Miranda. Outro é a cena em que os quatro personagens centrais conversam momentos antes de dormir em que eles se divertem lembrando de algumas situações do cotidiano no próprio Preventório.

Montagem — Sobre o título, o ator Miguel Ramos (Lazinho) explica que ‘Má Pele’ foi escolhido “justamente por se tratar desse estigma da pele que é a doença, a hanseníase”. O espetáculo foi concebido pelo grupo teatral 4 Na Rua é 8, a partir de pesquisas e depoimentos sobre a história do Preventório de Jacarehy. “Pesquisamos no Arquivo Público e Histórico de Jacareí, onde encontramos materiais importantes. E entrevistamos ex-internos do Preventório”, explica a atriz Lucila Andreozzi.

O texto é autoral, assim como as canções que compõem o espetáculo, escritas pelo grupo. “Entretanto, inspirados em depoimentos e pesquisas. Fizemos tudo com base no que ouvimos e pesquisamos”, ressalta Ramos. A direção musical é de Márcio de Oliveira.

Incentivo — Má Pele é beneficiado pela LIC (Lei de Incentivo à Cultura) da Fundação Cultural de Jacarehy José Maria de Abreu, com apoio da empresa Schrader.

Para o diretor Edgar Castro, a LIC é um mecanismo importante para o fomento de trabalhos artísticos que ajudam na construção da identidade e preservação da memória da cidade. “Quando fui convidado pelo Juliano (Mazzuchini) para dirigir a peça fiquei muito feliz pelo interesse em refletir sobre a história da cidade. E saber que existe uma lei que incentiva esse tipo de trabalho é ótimo”, revela. “O incentivo à Cultura é a saída para a escalada da violência em que a gente vive. A saída é a educação e a cultura”, reforça Castro, que também é ator e professor de teatro.

Diretor – Edgar Castro é paraense, radicado em São Paulo, e que, além de ator é professor de teatro. Lecionou na Escola Livre de Teatro de Santo André/ELT e coordenou oficinas teatrais no Teatro da USP/TUSP e no Teatro Fábrica. Participou do Centro de Pesquisa Teatral/CPT de Antunes Filho e da Companhia do Latão. Entre seus trabalhos como diretor, Má Pele é o segundo em Jacareí. O Primeiro foi há três anos, com o grupo Coletivo de Artes Cênicas, quando dirigiu ‘Os Cavalos Refugam Perante o Abismo’ (também beneficiada pela LIC), peça inspirada na rebelião de presos da cadeia pública de Jacareí em 1981, que culminou na morte de cinco pessoas, entre elas o advogado Franz de Castro, da APAC (Associação de Apoio aos Condenados).

O Grupo – “Aqui Trem – Histórias da Ferrovia” foi o primeiro trabalho do grupo teatral 4 Na Rua é 8, realizado em 2010, com direção de Márcio Douglas. Em 2012, o grupo realizou a montagem do espetáculo “De Quem É a Rua Então?”, dirigido por Ednaldo Freire. Nesse mesmo ano montou o espetáculo “Rua Quixote”, de Miguel de Cervantes, dirigido por Juliana Monteiro. Em 2013, o grupo criou “Somos Todos Severina”.

Elenco: Camila Florentino, Juliano Mazzuchini, Lucila Andreozzi e Miguel Ramos.

Serviço – Teatro “Má Pele” — de 25 a 28/2 – às 20h – Museu de Antropologia do Vale do Paraíba – Rua XV de Novembro, 143, Centro. Ingressos gratuitos retirados com meia hora de antecedência.

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